COMPROMISSO É COISA PESADA
HOJE EM DIA, ULTRAPASSADA
NO ENTANTO...
MARCO E NÃO VOU
FICO MARCADO
FALO E NÃO CUMPRO
FICO FALADO
MELHOR SERIA
SER COMPROMISSADO?
EMBORA COMPROMISSO
ME FAÇA SENTIR ASSIM
COMPLETAMENTE ENGESSADO
DEVO ADMITIR SEM RODEIOS
QUE LIBERDADE SEM COMPROMISSO
NÃO É LEVEZA OU SAUDÁVEL ESPERTEZA
É ALIENAÇÃO
E DECEPÇÃO, COM CERTEZA
O NÓ DO
DESCOMPROMISSSO
Jovelino era
um rapaz jovem com grande dificuldade de amadurecer. Apesar dos seus 23 anos, se comportava como
um adolescente. Seu pensamento estava sempre voltado para os prazeres que
poderia não só usufruir da vida, mas
também usurpar da mesma. Não ajudava e não colaborava com nada em casa.
Aliás, era extremamente desorganizado e
o que sabia fazer com maestria era criar bagunça para o outro arrumar.
Inflava-se de pedantismo para dizer que não era empregada doméstica para fazer certos
tipos de serviço ou, no mínimo, que as atividades domésticas lhe davam arrepios.
Esta justificativa infantil era o suficiente
para a mãe assumir todas as responsabilidades neste setor, visto que a família não
contava com os serviços de uma empregada. Mesmo assim, a mãe aceitava esta
atitude infantil do filho, alimentando-o com esta dependência. Agindo assim, talvez
quisesse, inconscientemente, ter para si uma eterna criança. Jovelino não se ligava nas responsabilidades que esta nova etapa da
vida exigia e possuia pais que alimentam o seu lado criança. Não se comprometia
com nada que dissesse respeito a uma vida adulta. Criava profissões ilusórias
em sua cabeça que pudessem garantir o
status e a continuidade dos prazeres que não aceitava abrir mão, tais como, dinheiro acessível para
suprir todos os seus desejos, por mais banais que pudessem ser. Jovelino,
apesar de adulto, dava como toda criança
birrenta os seus pitis quando os pais tentavam impor algum limite que pudesse frustra-lo. Acreditava
que os pais deviam suprir todos seus caprichos. Tinha sempre uma frase pronta
para justificar sua demanda de caprichos: “Eu não pedi para vir ao mundo!”
Jovelino não assumia a própria vida. Achava que o fato de ter sido gerado pelos
pais, o eximia da responsabilidade de comprometer-se com a sua própria vida.
Todo ano tentava vestibular para medicina
ou direito. Seu intuito era ser prontamente, como num passe de mágica, um médico
famoso ou um juiz poderoso. De acordo com suas fantasias, se formaria numa escola Federal que lhe daria um
maior status intelectual. No entanto, nunca se empenhou ou estudou o suficiente
para passar numa escola assim. Depois de tantos fracassos sempre justificados,
colocando a culpa em alguma situação ou pessoa, resolveu tentar o vestibular numa
escola particular. Em nosso país há muitas escolas para Jovelinos. Fico pensando: Quem serão os clientes destes
jovens sem compromisso com a realidade? Quem serão as vítimas de suas fantasias e
de seus delírios?Que Deus nos proteja deles, ou que nos dê, no mínimo, a intuição e discernimento para
separamos o joio do trigo.
Os Jovelinos da vida são verdadeiros sanguessugas, mas
todo parasita tem um hospedeiro que se permite ser sugado. Será que voce é
hospedeiro de algum Jovelino? Se for, há duas alternativas plausíveis para sua
condição: Ou voce adora ser a vítima ou deseja fazer do Jovelino a sua vítima,
tornando-o dependente de sua boa vontade para que voce possa reinar, dominar
sutilmente, e ainda assim, receber o título
de pessoa bem intencionada.
Colocar limites para os Jovelinos é a única maneira de
faze-los crescer e a única maneira de
protegermos a nossa vida, bem como a sociedade do estresse e da ameaça que eles representam. Querem tudo sem dar
nada em troca. A desorganização de qualquer grupo social, seja ele, o lar, a
escola, ou a comunidade de uma forma geral, é decorrente da atuação de algum
Jovelino e de seus respectivos
hospedeiros.
Nada funciona
harmonicamente sem a reciprocidade mútua. Jovelinos desconhecem o significado
das palavras reciprocidade, solidariedade, colaboração e compromisso. São
extremamente egocêntricos, portanto, incapazes de enxergar e respeitar o
território do outro. Para eles, ha um único território: o próprio. Neste território,
mandam e desmandam, reinam sem restrições. Para Jovelinos só existem direitos.
Dever é uma palavra que existe, no entanto, só para o outro. Todas as vezes que
seus desejos são contrariados, pousam de
vítimas ou assumem uma postura muito agressiva para lutar por aquilo que,
ilusoriamente, acreditam ser também um direito seu, inalienável. Jovelinos não conquistam nada. Tudo que adquirem, é, de certa forma, uma usurpação. Se
investigarmos bem, por trás de uma falsa luta para conquistar um objetivo tem
sempre alguém explorado por ele, e, na verdade, o maior responsável por sua conquista. Se não
encontrar um explorado, encontrará alguém que lhe dê tudo na bandeja,
alimentando a sua aspiração de ser alguém sem nada precisar dar em troca. Este
ser que banca o egocentrismo dos Jovelinos também almeja alguma realização.
Encontramos aí, o tradicional desejo de pais medíocres que se sentem realizados
se puderem apresentar para a sociedade os títulos de seus filhos. Para isto, são coniventes com todo tipo de
falcatrua e mediocridade que possa oferecer ao seu rebento o diploma de bem
sucedido. Muitos são, também, “pais Jovelinos”, que não
oferecem limites por não darem conta de aceita-los. Vivem através dos
filhos a sua própria falta de limites. No reino do egocentrismo destes
Jovelinos não há espaço para o compromisso germinar. Compromisso requer
empatia, virtude desconhecida para os Jovelinos que possuem muita dificuldade
de se colocar no lugar do outro, pois reconhecem apenas o lugar de seus próprios
desejos.
Grande parte das coisas que não são realizadas no
mundo se deve à ação descompromissada dos Jovelinos. São como gafanhotos que
nunca chegam na hora de semear, mas que sabem devorar como ninguém. No entanto,
para toda praga tem um remédio: Limite é uma boa medicação para quem deseja tratar de Jovelinos ou se
proteger deles.
Muitas vezes somos Jovelinos com a nossa própria vida.
Não temos compromisso com nossos objetivos, com nossos sonhos, com nossa saúde,
enfim com tudo de mais sagrado que nos rodeia e que é, de certa forma, o diamante de nossa
vida. Se perdemos este diamante, perdemos o nosso brilho. Quando não temos
compromisso com nós mesmos, falta também limites em alguma área de nossa vida.
Por excesso de ambição, não enxergamos, muitas vezes, a nossa verdadeira missão
como ser humano ou a importância de nossa saúde. Embrenhamos, sem limites, num
mundo que nos distancia da nossa verdadeira essência. Enxergamos, apenas, o
desejo de um ego faminto sem ouvir as necessidades de nossa alma. Criamos o caus
e o desequilíbrio dentro de nós mesmos, embora, na maioria das vezes, relutemos
em admitir isto.
Quantas vezes somos Jovelinos com a natureza. Aliás, a
atitude “jovelínica” do homem, vem destruindo o que não tivemos trabalho de
semear. Queremos devorar, desmedidamente aquilo que nos sustenta. No entanto, a
mãe natureza não age como pais de Jovelinos. Ela já está colocando limites,
embora, relutemos em aceitar. E, cada vez mais, os limites serão mais rígidos,
pois a natureza sabe, como ninguém, educar. Quando promete, não volta atrás. E,
lamentavelmente, lá na frente, não haverá retorno. Melhor seria tomarmos
consciência agora, mas a população de Jovelinos tem crescido mais do que enxame
de gafanhotos na lavoura do bom senso.
A palavra compromisso deriva de “com promessa.” Tem
muita gente avessa a esta prática. Observo que a grande maioria avessa ao
compromisso, exige esta prática do outro, menos de si mesmo. Quando fazemos um
acordo ou uma promessa, estamos acordando o que ganhar e o que perder; estamos
acordando direitos e deveres. Há quem queira pagar sua falta de compromisso com
palavras de desculpas ou com justificativas que giram apenas em torno de suas
próprias necessidades. Há quem nem mesmo isto ofereça. Consciência é o que lhes
falta. São portadores de uma pseudo consciência que lhes permite enxergar
apenas os seus próprios propósitos.
Existem pessoas
que sentem a palavra compromisso como uma gaiola ou como um engessamento.
Temendo um aprisionamento, fogem desta prática, mas acabam se perdendo, pois
não há como não se comprometer. Comprometemo-nos até mesmo com a nossa falta de
compromisso. É possível evitar certos compromissos, mas não todos. O nosso
corpo e a nossa alma estão repletos de exigências. Somos seres sociais e a
sociedade, o trabalho e família também nos exigem compromissos. Em tudo que
fazemos ou deixamos de fazer está implícito algum nível de comprometimento.
Não há como
viver isoladamente. A nossa interdependência para com tudo e todos nos exige
comprometimento. Pessoas maduras são pessoas compromissadas. Pessoas imaturas
vivem a seguinte operação: “Compromisso, só para o outro”. Aprisionam-se no
princípio do prazer: “Prazer, só meu”.
Não é possível ter o mesmo nível de compromisso com
tudo e com todos. Em momentos diferentes da vida selecionamos o que teremos
mais ou menos comprometimento. O importante é cumprirmos fielmente o nível de
compromisso que acordamos ter com determinadas causas do momento.
O
imaturo finge ter compromisso para levar vantagem sobre a pessoa ou situação com
a qual se compromete. Um ser maduro não se compromete quando não pode oferecer
o que lhe é solicitado. Sabe medir bem o grau das exigências solicitadas e a
sua disponibilidade para cumpri-las. Pessoas avarentas, que desejam levar
vantagem em tudo, não possuem medidas. A ausência de limites é a principal
medida destas pessoas.
Nas filosofias indianas existe uma palavra muito importante
chamada Dharma = dever, nossa missão e nosso compromisso nesta vida. Se não
cumprirmos e respeitarmos o nosso Dharma geramos desequilíbrios significativos
não só na nossa vida, mas na nossa sociedade e no universo. Toda Dharma implica
num Karma. No Karma prevalece a lei da ação e reação. “Toda ação tem uma reação
igual e contrária”. Se não respeito meu Dharma crio um karma desfavorável. Podemos
perceber claramente esta operação em nossa vida e na nossa sociedade citando
uma variedade de exemplos – políticos que não cumprem seu dever gerando
desequilíbrios sociais significativos; pais que não cumprem seu dever para com
os filhos gerando desequilíbrios emocionais marcantes na vida dos mesmos; nosso
desvelo com nosso corpo gerando sérias doenças; empregados ou patrões que não
se comprometem mutuamente um com o outro acabam gerando a falência de uma
empresa e por aí vai...
Todas as vezes que desejamos ser alguma coisa,
precisamos primeiro analisar se além do desejo queremos nos comprometer com as
tarefas que esta missão de “ser” nos solicita. A vida não se sustenta apenas
com desejos, mas com ações. É através de nossas ações que cumprimos o nosso
dharma e criamos um karma que promova a nossa evolução. A grande maioria das
complicações que vivemos são frutos do desrespeito ao nosso dharma, ou seja, ao
nosso dever e compromisso. Cumpra bem o seu dharma, o seu compromisso e verá
mudanças positivas operando em sua vida. Se tua vida está muito desorganizada e
desequilibrada é porque você não está cumprindo o seu dharma ou está sendo
conivente ou sustentando a falta de compromisso de alguém.
Para quem deseja ter um pouquinho mais de compromisso
com o mundo, com o outro e consigo próprio
e aprender a se defender de quem não possui um nível satisfatório de
comprometimento, a história de Fofura, uma baleia de alma faminta, talvez possa
alertar para algumas coisas importantes.
A Baleia de alma faminta
Na imensidão do mar vivia Fofura, uma baleia muito
simpática e bonita. Todos amavam Fofura, menos ele mesmo. Por isso, vivia
sempre triste achando que alguma coisa lhe faltava. Mesmo sendo agraciado pela
riqueza imensurável do oceano, se portava como um ser miserável. Se achava
vítima de uma vida sem graça. Sentindo-se assim, Fofura foi perdendo o encanto,
ficando cada vez mais desanimado e solitário. A única coisa que Fofura gostava de fazer é comer, comer, comer...
Mesmo que não estivesse com fome, devorava, instantaneamente, qualquer alimento
que cruzasse o seu caminho. Sabem por que ?Porque existia uma fome na alma de
Fofura proveniente das coisas boas da vida que ele deixou de se alimentar. Amargurado, se isolou e deixou de ser nutrido
pelo carinho dos amigos e familiares. Sentia-se rejeitado e ressentido. Seu
ressentimento lhe provocava imenso mal estar.
Passava a maior parte do tempo dormindo, dormindo, dormindo...Seu
desânimo impedia que fosse nutrido pelo lazer e por todas as festas
maravilhosas promovidas pelos seres marítimos. Fofura perdeu a vontade de
participar de tudo que pudesse alimentar sua alma. Um ser com a alma alimentada
não possui o desejo de entupir o corpo
com excessos capazes de adoecê-lo. Infelizmente a alma de Fofura estava
desnutrida e ele foi usando seu corpo para compensar aquilo que faltava em sua
vida. Ingeria tudo que pudesse fazer com que sentisse cheio, jamais satisfeito.
Foi assim que foi se tornando uma baleia muito pesada. Perdeu a leveza e já não
conseguia mais nadar como antes. Passava a maior parte do tempo parado,
sustentando uma depressão horrível, agora, sua maior companheira. Depressão é
uma doença séria que toma conta da gente
todas as vezes que a gente se esquece de tomar conta da nossa própria vida.
Infelizmente, nem todo mundo sabe como tomar conta da própria vida; faz isto de
uma forma muito equivocada. Afogando
cada vez mais em um mundo de trevas, Fofura perdeu a vontade de viver, pois
aquela vida já não tinha mais graça. Só uma mudança bem grande poderia salvar
Fofura, no entanto, ele tinha a preguiça como a sua maior aliada e só a palavra
mudança já lhe dava arrepios.
Fofura só sabia reclamar e solicitar coisas que não
preenchiam a sua vida. Posava de vítima
de uma vida chata e não assumia a responsabilidade pelas suas frustrações.
Atribuía sempre a alguém esta responsabilidade.
Muitos amigos se aproximavam de Fofura ofertando
conselhos que poderiam ajuda-lo muito, mas ele não tinha a menor vontade de
colocar em prática os conselhos que recebia. E, assim, os amigos acabaram se
afastando dele, pois aquela baleia, no passado tão amigável, se tornou fria e
distante. Mas, tem sempre aquele amigo que nunca desiste da gente. E, Fofura
tinha um amigo deste.
Tuba era um tubarão muito determinado e resolveu
ajudar o amigo. Percebeu que lá no fundo dos olhos de Fofura ainda existia uma
centelha luz e um possível desejo de viver uma vida feliz. Resolveu investir
nesta possibilidade. Forçando-o, pegou Fofura pelas nadadeiras e o levou até Netuno, o grande Deus dos mares.
Sabia que só a sabedoria de um Deus poderia dar um jeito em Fofura. Meio a
contragosto, Fofura seguiu com Juba para a grande caverna de Netuno. Sentado
num trono formado por corais da mais inusitada beleza, o grande Deus dos mares
iniciou a conversa:
-
Finalmente! Estou lhe esperando já faz um bom tempo, Fofura.
-
Como assim? Perguntou Fofura sem compreender a razão que levava Netuno esperar
por ele. Se achava uma baleia insignificante, jamais um presente dos Deuses
para o universo.
Antes que Netuno lhe desse a resposta. Tuba cochichou
no seu ouvido:
-
Netuno é o grande Deus e sabe de tudo que acontece com todos os seres marítimos
e em cada centímetro do oceano. Com certeza, sabe muito bem o que você anda
fazendo consigo mesmo.
-
Como assim, pergunto eu! Continuou Netuno dando prosseguimento à indagação de
Fofura – Voce acha que pode deixar de se comprometer e as coisas permanecerem
em ordem?
-Comprometer?
Não estou entendendo onde o senhor deseja chegar... Indagou Fofura.
-
Quero chegar na palavra compromisso. Sem ele, as melhores energias do nosso
universo não se sustentam. Não há como existir amor, saúde, trabalho,
felicidade e evolução sem compromisso. Por acaso, você se esqueceu do
significado mais profundo desta palavra?
Antes
que Fofura pudesse responder, Tuba, respondeu por ele:
-
Com certeza, esqueceu. Se não tivesse esquecido não estaria assim.
- Parece
que você não se esqueceu; não é mesmo, Tuba? Se tivesse se esquecido do
compromisso que devemos ter com tudo aquilo que nos cativa e cativamos, você teria deixado esta amizade
morrer.
Sem palavras, Tuba moveu a cabeça afirmativamente respondendo
com um afetuoso sorriso e com um olhar que denotava um profundo carinho pelo
amigo. Netuno levantou-se de seu trono e como se fosse uma espada, apontou seu
olhar para Fofura , olhar ainda mais
profundo do que o de Tuba, mas que denotava uma certa firmeza e acusação. Com
uma voz empostada, indagou a baleia:
-
E você, o que me diz?
Fofura, sem saber o que dizer, limitou-se a baixar seu
olhar num gesto de total submissão ao grande Deus. Netuno, com uma voz ainda
mais firme perguntou franzindo a testa:
-
Voce quer ser um peso ou uma promessa de felicidade para o nosso
mundo?
-
É claro que eu desejo ser uma promessa de felicidade. No entanto, eu não sei
como fazer isto. Respondeu Fofura
rompendo com seu silêncio angustiante.
-
Voce não tem que desejar nada! Desejos
você já tem demais. Tem que querer fazer efetivamente alguma coisa. Entre o
desejo e a vontade existe um grande abismo. E, parece que é nele que você caiu.
-
Como assim? Não entendi. O senhor pode me explicar melhor? Solicitou Fofura ao
Grande Deus dos mares.
-
Desejar é fácil. Quero ver você se
comprometer a fazer aquilo que o seu
desejo lhe solicita fazer.
-E,
o que o meu desejo me solicita fazer? Estou tão perdido que nem sei mais o que
desejo.
-
Muito menos o que quer, não é mesmo? Ironizou Netuno.
Meio sem jeito, Fofura balançou a cabeça
afirmativamente. Quando abriu a boca para pedir desculpas, foi interrompido por
Netuno:
-
Já sei o que vai falar. Vai pedir desculpas. Desculpas é tudo que os
descompromissados sabem fazer. Fazer não, falar. Gente sem compromisso é bom de
lábia, porém, incapaz de agir com decência.
-
Está me dizendo que ajo com indecência? Questionou Fofura assustado e ao mesmo
tempo recriminando Netuno com um olhar insatisfeito.
-
Ah! Está insatisfeito comigo? Está insatisfeito com as verdades que lhe digo?
Ou está insatisfeito consigo mesmo? Inqueriu Netuno.
-
Na qualidade de Deus, o senhor deveria me ajudar e não ficar aí me acusando.
Recriminou novamente Fofura.
Netuno deu uma estridente risada rachando alguns
corais mais frágeis próximos a eles.
-
Ah, é! Eu é que deveria estar fazendo alguma coisa por você... E, o que cabe a
você fazer por si mesmo? Não estou cobrando de você fazer pelo nosso mundo.
Isto seria demais para você agora! No
momento, estou cobrando de você fazer apenas por si mesmo, pelo seu mundinho. Mas, nem pelo seu mundo pequeno você se compromete,
sua baleia egocêntrica. Repreendeu Netuno.
-
Egocêntrica? O que é isto? Perguntou Fofura franzindo a testa.
-
Egocêntrico é aquele ser que gira apenas em torno dele mesmo. Não consegue ter
compromisso com nada e nem mesmo com ninguém. Não tem compromisso nem mesmo
consigo próprio. Quer que o mundo tenha este compromisso por ele. Cobra do
mundo o que deveria cobrar de si mesmo. Não faz e quer receber. Quer ter
direitos; deveres jamais. Rompe acordos e não deseja pagar por isto. Explicou pausadamente o grande Deus.
-
Mas, que acordo eu não venho cumprindo? Perguntou Fofura querendo passar um ar
de ingenuidade.
-
Muitos! Centenas deles. Pare de fingir ingenuidade! Voce sabe muito bem o que está deixando de
fazer. Esta carinha de ingênuo só engana a si mesmo, à mim, jamais!
-
Mas, eu... Antes que pudesse continuar, o grande Deus retomou o assunto.
- Mas,
eu o que? Pare de buscar desculpas
esfarrapadas para seus gestos irresponsáveis. Aliás, o que os seres sem
compromisso mais possuem são desculpas esfarrapadas. Sempre arranjam desculpas
para justificar o que não tem justificativa e negar seu vergonhoso
egocentrismo. Suas justificativas atuam como uma burca para esconder uma face
vergonhosa que nem mesmo eles dão conta de olhar e conviver.
-
Poxa! Voce está pegando pesado demais comigo, grande Deus. Reclamou Fofura com
os olhos lacrimejando.
-
Pesado está você! Daqui uns tempos, você não se meche mais. Não tem compromisso
com seu corpo e nem com sua própria vida. Diga lá, com os seus amigos,
familiares e outros seres que cruzam o seu caminho.
-
Por favor, me diga então o que devo fazer. Implorou Fofura.
-
Não vou lhe dizer nada! Como já disse anteriormente, o maior defeito dos
descompromissados é perguntar o que fazer ao invés de fazer o que deve ser
feito. Voce sabe muito bem o que fazer. O acordo já foi firmado. Voce,
simplesmente, não anda cumprindo o seu dever. Quer direitos, direitos,
direitos... E, não faz nada direito. Se quer saber de alguma coisa agora,
pergunte para sua consciência. E, por hoje, a nossa sessão acabou! Finalizou
Netuno.
Tuba, boquiaberto ouvia tudo atentamente. Sem dar uma
palavra, pegou novamente o amigo pelas nadadeiras retirando-o dos aposentos do
grande Deus. Levou Fofura para a praça de corais mais próxima, recostaram-se
sobre uma linda rocha para refletir sobre o resultado do encontro. Fofura,
ainda insatisfeito e exalando irritação, resolveu usar o amigo Tuba para tecer
as suas viciantes justificativas de “meia tigela”.
-
Netuno é muito radical! Não entende nada que se passa comigo e com ninguém.
Voce não tinha que me trazer aqui! Voce é culpado por eu estar agora mais
insatisfeito ainda. Se fosse meu amigo, teria me defendido frente as sérias
acusações que aquele Deus de araque me ofertou.
Tuba não acreditou no que acabara de ouvir. Ficou ainda mais perplexo com o amigo.
Comprometendo-se com a saúde e felicidade do mesmo, acabou recebendo de volta
sua ira ao invés de sua gratidão. Tuba compreendeu que seres egocêntricos e sem
compromisso jamais conseguirão olhar para o outro. Olham apenas para si mesmo e
mesmo assim não conseguem se enxergar. Enxergam apenas a ilusão daquilo que
julgam ser. Compreendeu que o único compromisso que Fofura possuía era com a
mal que lhe habitava; por isso, conseguia fazer tão bem o mal a si mesmo. Bateu
nas costas do amigo e falou pesarosamente:
-
Sinto muito! Muito mesmo! O meu compromisso com você acaba aqui. Não existe
compromisso unilateral. Talvez, esta seja a mensagem mais importante que o
grande Deus Netuno lhe passou. Não temos como exigir de Deus, dos amigos,
familiares, enfim do mundo aquilo que não fazemos por nós mesmos. Não vou
desejar a você que fique com Deus, pois você só dá conta de ficar consigo mesmo
e com este mal que lhe habita. Deixe-me afastar antes que este seu mal me
atinja também. Meu grande amigo Fofura, de Fofura não tem mais nada. Só vejo
dureza; e Dureza será seu nome daqui para frente.
Tuba partiu sem olhar para trás e Fofura ficou ali,
parado e duro, à espera de algo que ninguém jamais faria por ele. O tempo
passou e ninguém mais e lembrou da existência de Fofura. Ficou esquecido;
simplesmente, esquecido. Esquecido, primeiro, por ele mesmo e depois pelo
resto. A única lembrança que restou foi de uma baleia chamada Dureza. De tão
dura que era virou uma pedra. Esta pedra,
no centro de uma praça, se transformou num altar onde milhares de peixes vinham ofertar suas
oferendas pelas promessas realizadas.
Dizem que o Deus Netuno é capaz de perdoar tudo, menos uma promessa não
cumprida. E, como a palavra compromisso provem de “com promessa”, todo ser sem
compromisso, parecido com Fofura, acaba
um dia virando pedra – pedra que machuca ou pedra no sapato da gente. E, para
não se machucar com esta perigosa e desconfortante pedra, melhor atira-la para
bem longe da gente.
Espaço de reflexão
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compromisso com:
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Sua saúde
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Seu lazer
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Seus estudos
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Amigos
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Seus projetos
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Sua casa
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Suas finanças
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Pessoas comprometidas com voce
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Sua missão
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OBS: Notas abaixo de 6 indicam falta de compromisso
DESAFIO
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o seu gráfico acima e se comprometa a melhorar seu desempenho nas áreas citadas