FALO BRASILEIRO
MUITO MAL O PORTUGUÊS
FALO ESTRANGEIRO
E ESQUEÇO O RESTO
ESQUECIDO DO QUE SOU
I’ DON’T KNOW MAIS NADA
BRASILEIRO CAIPIRA
PORTUGUÊS ULTRAPASSADO
ESTRANGEIRO CHIQUE
OH MAY GOD
QUE LOUCURA!
HELP!
LÍNGUA BRASILEIRA
LÍNGUA PORTUGUESA
LÍNGUA ESTRANGEIRA
SÃO TANTAS AS LÍNGUAS NUMA SÓ
QUE JÁ NÃO SEI MAIS
QUAL A MINHA
FALE BEM O INGLÊS
OU CHERAP
MAL O PORTUGUÊS
E CALE A BOCA
O BRASILEIRO PARA O GASTO
PSIU!
COMO HAMBURGER
CAGO SANDUÍCHE
DELICIO RUFFLES
VOMITO BATATAS
ALIMENTO-ME COM HOT DOG
ARROTO CACHORRO QUENTE
INTERVALO PARA COFFE-BRACKE
PARADA PARA O LANCHE
SALE PARA OS RICOS
LIQUIDAÇÃO PARA OS POBRES
MERCHENDAIZE PARA SOCITE
PROPAGANDA PRA RALÉ
RESIDO-ME EM LOFT
ABRIGO-ME EM APARTAMENTO
ROUPAS NO CLOSET
BUGIGANGAS NO ARMÁRIO
BANHO-ME NA SWITE
DEFECO NO BANHEIRO
EXPONHO BANERS
PENDURO CARTAZES
ENVIO FOLDERS
ESPALHO FOLHETOS
PROMOVO WORKSHOPS
FAÇO ENCONTROS
E, PARA FINALIZAR
NÃO SEI MAIS O QUE FALAR
SEI QUE FALO INGLÊS
SOU BRASILEIRO
DA LÍNGUA PORTUGUESA
PORTANTO, THE END.
Clique em http://youtu.be/P8PVaZQKibI para ouvir a música criada à partir desta poesia pelo músico João Cantiber e pela cantora Mari Blue
O
NÓ DO DESPREZO
A história
que vou lhes contar é minha, talvez, sua também. Já aconteceu várias vezes aqui
no Rio de Janeiro, no famoso calçadão de Copacabana. Todavia, acontece também,
por todo Brasil, nas vitrines de lojas, enfim, em cada esquina onde a
informação veicula e na boca de muita gente.
Será que o
calçadão é nosso ou dos turistas internacionais. O ideal é que fosse de todos.
No entanto, nem sempre me senti uma brasileira em alguns eventos importantes
que aconteceram por aqui. Em vários deles, me senti em outro país,
principalmente no que diz respeito à forma como as informações foram
transmitidas. Olhando para os cartazes e faixas espalhados por vários locais do
calçadão e palcos onde shows seriam realizados, me vi várias vezes perdida sem
saber qual evento seria realizado. Por incrível que pareça, não foi utilizada a
língua portuguesa para veicular a informação; apenas o inglês. Será que os
organizadores destes eventos se esqueceram que estavam no Brasil? Será que
acharam que a nossa língua oficial era o inglês? Ou será que menosprezam ou
desprezam a nossa cultura e a grande maioria do povo brasileiro? Será que todos
os brasileiros que frequentam a praia de Copacabana dominam o inglês? E,
mais... Será que todos os turistas internacionais possuem também este domínio? É
óbvio que não! Como é que uma secretaria de cultura pôde permitir um
desrespeito deste à nossa identidade e à nossa língua? Como pôde acontecer isto
dentro do nosso próprio território? Acho fundamental que todas as informações,
principalmente numa cidade turística, sejam repassadas em várias línguas
diferentes de maneira a facilitar a compreensão de tudo que o evento queira
repassar para o público. Mas, parece que se esquecem do português com bastante frequência.
Quantas vezes, tive que pedir ajuda a pessoas que falavam o inglês fluentemente
para traduzir cartazes e faixas espalhadas pelo calçadão. Fiquei imaginando o
número de pessoas que estariam transitando por ali com as mesmas dificuldades.
Lamentando o fato, alguns brasileiros me aconselharam com uma pedante
convicção: “Voce é quem está ultrapassada. Faça inglês se quiser compreender!”
Muitos
brasileiros são mal avaliados e sofrem, de certa forma, um certo preconceito
por não terem o domínio de outras línguas estrangeiras, principalmente o
inglês. É constrangedor! Concordo plenamente que nos enriquecemos muito com o
domínio de outras línguas estrangeiras, no entanto, quantos brasileiros podem
ter acesso aos cursos de língua estrangeira neste país? Se estamos lutando
ainda por uma educação para todos; se estamos ainda lutando para reduzir o índice de analfabetismo em nosso país; se
grande parte de nosso povo não consegue ainda decifrar a língua portuguesa;
como podemos cobrar de nosso povo o domínio de uma língua que não seja a nossa?
E tem mais... Daqueles que podem ter acesso aos cursos de língua estrangeira,
quantos deles realmente querem isto? Dentro deste país, que ainda se chama
Brasil, acho que poderíamos esperar, no mínimo, o respeito àqueles que possuem
ainda a liberdade e o desejo de querer falar a própria língua.
O desprezo é sempre dirigido àquilo que subestimamos
ou julgamos menor. Dói muito constatar que uma língua tão bonita quanto o
português estará fadada ao esquecimento se não respeitarmos a nossa identidade.
Usei a nossa língua como um exemplo, pois me deparo frequentemente com pessoas
que já não conseguem mais encontrar palavras em português para designar termos
muito simples. Percebo que o esforço é bem maior para buscar no inglês
expressões ou palavras que o nosso dicionário e gramática oferecem com tanta fartura.
Menosprezamos nossa riqueza linguística, dentre muitas outras que se perdem e
se perderam por aí. Quero salientar que não sou contra a utilização de outras
línguas no nosso universo linguístico; pelo contrário, acredito que esta
abertura seja por demais enriquecedora. Só não acho justo uma abertura
unilateral onde o universo estrangeiro engole aquilo que temos de mais valioso
e nos faça esquecer aquilo que somos.
O desprezo é uma erva daninha capaz de nascer em
qualquer jardim. Nem sempre achamos que uma pessoa comum possa ter um tesouro a
nos oferecer. Sabem por que? Porque o nosso egocentrismo não deixa. Inflamos o
nosso ego para não perceber a riqueza do outro, enxergando apenas aquilo que a
nossa arrogância medíocre permite. Os padrões sociais de valorização pessoal também
nos ensinaram que é necessário brilhar
muito para receber apreço e
credibilidade. É necessário brilhar com títulos, poder, dinheiro, status, enfim
com uma série de futilidades que não mostram o verdadeiro valor de um homem.
Criou-se, à partir destes critérios sociais, as profissões mais importantes e
as menos importantes, bem como pessoas, cargos, assuntos, idiomas, etc. Tudo
passou a ser uma questão de mercado. A importância atribuída a algo é
diretamente proporcional ao montante de dinheiro que gira ao redor daquilo.
Sedentos por um lugar no ranking social, passamos a focar a nossa atenção
apenas naquilo possa nos garantir uma posição privilegiada ou no mínimo segura.
Focando a nossa atenção apenas nestas coisas, desfocamos para outras muito
importantes e nos cegamos para o essencial. Muitas virtudes essenciais ao nosso
desenvolvimento espiritual e humanitário são descartadas ou no mínimo, ficam
relegadas em segundo plano. A simplicidade perde seu espaço para a sofisticação
e complexidade; a sinceridade perde espaço para a falsidade e por aí vai.
Fingimos ser aquilo que a sociedade privilegia e deixamos de ser nós mesmos.
Com isso, somos capazes de desprezar riquezas incomensuráveis, tais como a
nossa cultura, nossa língua, enfim nossos valores mais profundos. Tornamo-nos
superficiais e pedantes.
Para mostrar o nosso desprezo, humilhamos quem é
simples, ou mais precisamente, quem nos mostra aquilo que insistimos negar
dentro de nós mesmos. O nosso desprezo é uma maneira perversa de dizer: “Eu sei
o que você não sabe” ou “Eu sou o que você não conseguiu ser”. No entanto, nas
profundezas do nosso inconsciente, num lugar onde não há espaço para a
falsidade, estamos dizendo com todas as letras: “Temo não saber” ou “Temo não
ser reconhecido”.
Fico muito preocupada quando vejo a nossa cultura e
nossa língua ser desprezada dentro de nosso próprio país. Se lá fora ela não
vale tanto, deveríamos, no mínimo, reconhece-la e valoriza-la nos limites de
nossa Terra, se é que temos alguma. Muitos se preocupam com o risco de nações
estrangeiras tomarem o nosso chão. No entanto, nossa língua está sendo roubada
dentro de nosso próprio território e ninguém diz nada. Talvez possam dizer um
dia: Stop! Este silêncio é uma consequência daquilo que restou de nosso idioma.
Com a língua roubada, nos resta a mudez. A melhor maneira de escravizar um povo
é roubando dele a sua identidade. Estamos perdendo a nossa identidade
brasileira. Achamos bonito ser como o povo de fora, das ditas nações
desenvolvidas. Temos vergonha de nós mesmos. Temos muitos motivos para nos
envergonhar, mas não podemos esquecer que temos também, muitos motivos para nos
orgulhar de nós mesmos. Somos como qualquer nação, cheia de erros e acertos. Se
estivermos errando, precisamos cobrar de todos os brasileiros uma postura mais
acertada. Não é desprezando o nosso país que iremos reerguê-lo. Precisamos
aprender a lutar contra os estrangeiros e brasileiros desnaturados que nos dão
rasteiras. E, o melhor golpe é reconhecer a nossa cidadania brasileira apropriando,
de fato, da riqueza de ser brasileiro. Somos uma nação nova que precisa ainda
crescer muito. Precisamos aprender também com todas as nações do mundo, sejam
elas mais ou menos desenvolvidas do que nós. Precisamos de exemplos, porém sem
perdermos a nossa identidade. O mesmo vale para cada indivíduo. Todo ser tem os
seus recursos e as suas limitações. O reconhecimento de si mesmo e do outro é o
primeiro passo em nosso processo evolutivo.
Aquilo que parece pequeno pode ser grandioso; tão
grande que os nossos olhos débeis não conseguem enxergar por inteiro. Frequentemente,
enxergamos apenas a parte do todo que nos interessa e criamos a falsa ilusão de que conhecemos a
realidade. Agarramo-nos a esta ilusão com toda prepotência para não sentirmos impotentes
e pequenos demais. Diante do todo, tudo é importante e nada é mais importante. Assim, aquilo que não parece ser valioso
segundo as lentes de nosso desprezo é, na verdade, muito mais do que
conseguimos apreender. Só a humildade é capaz de nos situar frente a realidade,
nos proteger de nossa arrogância e
recuperar a nossa visão.
Tomados pela arrogância, desprezamos além de nossa
identidade, muitas riquezas importantes. Desprezamos aqueles que erroneamente
julgamos inferiores. Desprezamos a natureza por acreditar que ela está fadada a
nos servir. Desprezamos a nós mesmos quando não possuímos auto-estima
suficiente. Nossos preconceitos sustentam o desprezo que sentimos. Precisamos
aprender a nos relacionar com tudo e com todos. Precisamos aprender a doar e
receber. E, lembrar sempre: Aquilo que
desprezo é, na verdade, o que mais temo
nas profundezas de meu ser.”
Se você é daqueles que usa o desprezo para se sentir
maior do que aqueles que você julga menor que você, talvez a história abaixo
possa lhe ensinar a valorizar “aquilo que não parece ser ou ter valor”. Esta
história, ao contrário de todas as historinhas inventadas por mim, foi, na
verdade, um acontecimento ocorrido com meu pai a muitos anos atrás quando ele
iniciou a sua vida profissional. Em alguns momentos, tem história verdadeira
que parece história inventada.
O Anjo da Estrada
Parados na
estrada a várias horas, sem saber o que fazer com um caminhão enguiçado insistindo em não
funcionar, três homens, já cansados e prestes a desistir do problema, foram
abordados por uma criança curiosa:
-Moço, o que aconteceu com seu caminhão?
-Some daqui, menino! Berrou o assistente
do motorista sem dar a mínima atenção ao menino e bastante incomodado com a presença do mesmo.
Antes que o
menino fosse embora carregando desapontamento e humilhação, o motorista, dono
do caminhão, o chamou carinhosamente:
-Ei, garoto! Não liga para este moço
não, ele é muito ignorante. O meu caminhão deu defeito, mas não sabemos ainda o
que aconteceu. De repente, ele parou de funcionar... O mecânico já chegou para
resolver o problema, mas não conseguiu
ainda descobrir o defeito.
O garoto deu
uma olhada no motor do veículo como se entendesse de mecânica, e falou:
-Sabe o que é, moço... Outro dia o
caminhão do meu tio também parou de funcionar assim, sem mais nem menos. Aí,
eles deram uma balançada nele e ele começou a funcionar de novo.
-Balançada? Como assim? Perguntou o
motorista achando estranho o comentário do garoto.
-Ah, moço... Eu até achei esquisito, mas
deu certo. Juntou um monte de gente e começaram a balançar de um lado para o
outro. Depois disto, viraram a chave e pronto. O motor funcionou direitinho.
Antes que o
menino continuasse dando suas explicações, o mecânico olhou animado para o
motorista sugerindo:
-Acho que pode dar certo. Vamos tentar?
Vocês dois balançam de um lado e eu balanço do outro. Quem sabe...
O assistente do
motorista franziu a testa desanimado e com ironia continuou:
-
Deixa de brincadeira, desde quando esse pedaço de gente sabe alguma coisa ?
- Mas, faz sentido o que ele falou -
justificou o mecânico.
-Faz sentido nada! Resmungou o
assistente.
-Se faz ou não faz, eu quero tentar. Até
esse momento, pelo que eu sei, você trabalha para mim. Vamos lá, faça a sua
parte, ajude a balançar! Determinou o dono do caminhão.
Muito a contra
gosto, o assistente ajudou a balançar o veículo. O garoto sentindo-se
considerado e cheio de moral pôs-se a ajudar oferecendo a sua força de criança,
porém revestida com uma determinação de adulto. Antes que o mal educado
assistente pudesse novamente oferecer a sua ironia, o motorista correu até a
cabine e virou a chave. O caminhão estremeceu-se todo, roncou forte como se
quisesse dizer:
-Funcionei!
O dono do
caminhão olhou no fundo dos olhos de seu assistente dizendo:
- Nunca duvide da boa vontade e da
sabedoria de uma criança.
O assistente
não sabia onde esconder a sua cara. Da ironia ao espanto, engoliu seco e com
seu olhar no chão, não teve a coragem e nem mesmo a humildade de pedir desculpa
ao garoto que salvou o seu dia. No entanto, o dono do caminhão se aproximou do
garoto e externando gratidão disse:
-Muito bom! Senão fosse por você,
ficaríamos nesta estrada até sei lá quando...
-É verdade! Confirmou o mecânico.
O dono do
caminhão lhe ofereceu uma boa gorjeta, mas o que o garoto queria mesmo, já
tinha conseguido: ajudar e ser reconhecido.
Quando ouço histórias assim, fico
pensando até que ponto este garoto não era um anjo da guarda querendo não somente ajudar, mas
sobretudo dar o seu recado:
"Não
subestime nada e ninguém. Por menor que possam parecer, as pequenas coisas
podem nos trazer grandes soluções".
ESPAÇO DE REFLEXÃO
Marque abaixo as atitudes que você adota, mesmo que
eventualmente. Depois desta reflexão, esforce-se para não continuar desprezando
pessoas ou situações que poderão torna-lo um ser mais humano que realmente preza a vida que
lhe foi confiada.
( ) Me acho mais importante que certas pessoas
(
) Não possuo desejo ou tempo para escutar pessoas socialmente consideradas
inferiores a mim
( ) Acho que crianças, empregados ou
“subalternos” foram feitos apenas para obedecer
( ) Não levo a sério o que crianças falam por considera-las imaturas
( ) Acho os “velhos” ultrapassados
( ) Sempre achei meus pais caretas, bem como as
pessoas da idade deles
( ) Adolescentes são tolos aborrecentes
( ) Sinto vergonha de me relacionar com pessoas
muito simples
( ) Menosprezo os conhecimentos populares
( ) Acho minha língua “brega’, por isso, utilizo
com bastante frequência palavras estrangeiras para passar uma impressão de que
sou sofisticado
( ) Subestimo pessoas com baixo nível de
instrução
( )
Rejeito pessoas de grupos sociais, raciais, religiosos e culturais diferentes
do meu
( )
Tenho uma grande tendência a valorizar apenas os países ditos desenvolvidos, ou
estados e cidades mais desenvolvidas que
a minha
( ) Não me interesso pela história ou cultura
dos ditos países de 3º mundo
( ) Valorizo apenas quem é hierarquicamente
igual ou superior a mim
DESAFIO
Escolha uma pessoa que voce julga inferior a voce em
algum aspecto e se dedique a conversar profundamente com ela durante, pelo
menos, uma hora. Procure identificar um potencial bem desenvolvido na mesma e
pouco desenvolvido em voce. Feito
isto, a distância entre voces diminuirá significativamente.