segunda-feira, 9 de julho de 2012

O NÓ DO CIÚME E DA INVEJA


QUERO SUPORTAR A SUA AUSÊNCIA

FICAR FELIZ COM A SUA FELICIDADE

DESAPROPRIANDO A POSSE QUE TENHO DE TI.

 A ILUSÃO DE SER SEU DONO

TORNOU-ME, MISERAVELMENTE, SEU ESCRAVO.

ACORRENTADO AO MEDO DE PERDÊ-LO

PERDI A MIM;

ENCONTRO-ME, NA LIBERDADE

DE PODER CONCEDER A TI

O QUE DEVO A MIM.

INTEIRO,

NÃO ROUBAREI DE TI

O QUE A FONTE DE MINHAS CARÊNCIAS

ME FEZ PENSAR FALTAR EM MIM.

QUERO TER TUDO QUE TENHO,

TER EM MIM O SENTIDO DE SER;

SER ABUNDANTE

PARA NÃO PRECISAR JAMAIS

SER UM DÉSPOTA DE SEU SER.



O NÓ DO CIÚME E DA INVEJA


O que Azélia mais queria é não sentir ciúmes, no entanto, foi criada para reproduzir o comportamento possessivo de pais ciumentos, manipuladores e controladores. Com isso, aprendeu a ser também uma mãe possessiva e ciumenta. Procurou-me numa tentativa de ajudar a filha, que também estava sendo educada para ser como ela, possessiva e controladora. Não é à toa que a filha também se chamava  Azélia, carinhosamente apelidada de Azelinha. Azelinha aprendeu a somatizar, recurso comum a toda pessoa que necessita expressar via corpo o que a alma não pode exprimir. Experimentava vários tipos de sintomas, dentre eles, dores, desmaios, queda de pressão, problemas digestivos dos mais variados, alergias, dentre outros. O corpo de Azelinha era bem criativo para produzir sintomas, mas faltava a esta adolescente criatividade para ser feliz. A mãe não tinha muito tempo para criar sintomas, pois tinha que se dedicar ao trabalho para satisfazer as necessidades da família e se sentir uma mulher de valor. Com a exceção de uma fissura anal que precisou ser tratada via cirurgia, a personalidade controladora de Azélia conseguia bloquear algumas doenças.

Inicialmente, preocupada com os sintomas da filha, Azélia se fez forte e totalmente comprometida a fazer de tudo para ajudá-la a se livrar dos mesmos. No entanto, quando começou a compreender o significado dos mesmos, a mesma Azélia, forte e comprometida, transformou-se numa mulher frágil, carente e sem forças. Lentamente, o cenário foi mudando; os sintomas da filha já não tinham tanta importância, o risco maior era o namorado da mesma que incomodava muito esta mãe.

Azélia era uma mulher que separou-se muito cedo do marido, tendo que incumbir-se da difícil tarefa de educar três filhos. Azelinha, a filha mais nova, foi desde bebê  criada pelos avós para que a mãe pudesse trabalhar e satisfazer as necessidades do lar. Apesar de receber carinho e mimo em excesso dos mesmos, sofria de uma significativa carência afetiva. Sua carência não se baseava numa falta de afeto, mas numa necessidade compulsiva de atenção. Achava-se menos amada e injustiçada pela vida por ter sido abandonada pelo pai. Aprendeu desde cedo a comparar-se com outras crianças que tinham pais, mesmo que estes não fossem bons e tão presentes quanto seus avós e sua mãe. Sabia que não possuía algo que as outras crianças tinham e cresceu acreditando na sua suposta inferioridade. Só não pensava naquilo que tinha e as outras crianças não. Azélia tinha muita raiva do marido por este tê-la abandonado e Azelinha aprendeu a ter a mesma raiva. Recusava-se a receber o afeto do pai quando este tentava se aproximar. Agindo assim, se sentia cada vez mais carente e com fortes motivos para reforçar a sua posição de vítima perante o mesmo e mantê-lo na posição de vilão. Azélia, Azelinha e os outros filhos foram, no passado, trocados por uma outra mulher que conquistou o coração do pai tornando-o chefe  de uma outra família. Assim, a chefe de família passou a ser a mãe, o que a deixava satisfeita, mesmo sem saber conscientemente disto, pois, ser chefe de alguma coisa era mais um reforço para a sua auto-estima. Aliás, com seu trabalho compulsivo, Azélia conseguiu também tornar-se  chefe do setor onde trabalhava. Como poderia trabalhar menos e correr o risco de perder a posição de chefia? Com isso, tinha cada vez menos tempo para os filhos; ainda assim, se desdobrava para estar sempre presente na vida dos mesmos. No entanto, Azelinha se sentia cada vez mais carente e necessitada de afeto. Ela só prestava atenção nos horários que a mãe não estava em casa, nunca nos horários que a mãe tinha disponibilidade para ela. Aliás, só percebia as críticas que recebia, jamais os elogios. Estava sempre focada em suas faltas. Consequentemente, sentia-se cada vez menos amada por todos. Era insaciável por afeto.  Conseguiu arranjar um namorado controlador que necessitava de uma personalidade dependente para exercer a sua manipulação. Formou-se aí o par perfeito; a dependência mútua necessária para a infelicidade desejada. Infelicidade era o que mais precisava para se manter vítima e continuar chamando a atenção de todos. A relação era demarcada por muitas brigas, mas satisfazia as necessidades inconscientes de ambos. Azélia, preocupada com a relação dependente da filha, levava o assunto do namorado a quase todas as sessões. Tinha muito medo que a filha reproduzisse a sua história de vida com o marido. Esquecera, entretanto, que dera a filha o mesmo nome e que desejava, inconscientemente, que esta fosse a sua obra mais parecida consigo mesma. Queria que a filha adotasse uma posição que não dera conta de tomar frente o marido no passado. Mas, Azelinha não fora educada para ser ativa, independente e segura. Cada passo que dava era monitorado pelos avós e pela mãe. A mãe se sentia, inclusive, na obrigação de dar satisfações de cada passo da filha aos avós quando estes não pudessem estar por perto para vigia-la. A mãe não possuía um estilo próprio de educar. Seguia as regras dos pais. Era mais seguro, pois se alguma coisa desse errado com a filha, como deu consigo própria, a responsabilidade não seria sua.

Azélia não era uma mulher madura capaz de assumir a própria vida. Dentro de si morava ainda uma criança assustada que os pais não deixaram crescer. Fazia o mesmo com a filha. Presa e vigiada, sem movimentação própria, Azelinha se sentia muito infeliz. O que resta para uma pessoa aprisionada? Para Azelinha restava o namorado e este lhe bastava, pois não conhecia outros prazeres na vida. Como Azélia não conseguiu crescer e se tornar uma mulher de fato, nunca arranjava um namorado. O pai de Azélia não aceitava rivais. Queria um arem só para ele. A mulher, a filha e a neta faziam parte deste arem. Certamente, o avô ganhou a disputa com o marido da filha e agora a filha Azélia queria ganhar a disputa com o namorado de Azelinha. Morria de ciúmes dele, mas não admitia este sentimento. Dizia que desejava apenas livrar a filha desta dependência perigosa, como de fato era. Mas, todo sentimento acaba falando mais alto; nada fica encoberto para sempre por melhores que sejam as nossas estratégias. Assim, numa de suas sessões terapêuticas, Azélia soltou seu lamento infantil: “Como ela pode gostar mais do namorado do que de mim?”A criança que habitava Azélia não entendia que a filha Azelinha tinha crescido e desejava no fundo de sua alma se tornar uma mulher. Não entendia  que os sentimentos que uma filha possui por um namorado não são nem maiores e nem menores do que os sentimentos que se tem pela mãe, são apenas diferentes. Não entendia também, que a necessidade de Azelinha por sua companhia diminuiria naturalmente com a idade, já que não é saudável um filho ser dependente dos pais para sempre. Dificultar o relacionamento da filha com o namorado era uma forma de prejudicar a relação dos mesmos e quem sabe, trazer a filha de volta provocando, indiretamente, um rompimento. Assim, a mãe dificilmente permitia a filha se encontrar com o namorado e ficar a sós com o mesmo. Existia sempre um terceiro por perto para vigiar. Azelinha ficava muito brava com isto, e a relação dela com a mãe  se deteriorava cada vez mais. Cumpria-se, dia após dia, o famoso ditado — “o feitiço virou contra o feiticeiro”.

E os outros filhos de Azélia, não existem nesta história? Existem, no entanto, não faziam parte deste jogo. Estavam salvos, vivendo uma vida independente por fora e repleta de alegrias. Não se importavam com os padrões dos avós e da mãe. Não conseguiam ser controlados ficando fora do jogo. Eram muito invejados por Azelinha que se julgava menos amada do que eles pela mãe, embora esta lhe dirigisse o olhar a maior parte de seu tempo. Invejava a independência, a alegria dos irmãos, pois isto era uma coisa distante, desconhecida, porém lá no fundo, demasiadamente, desejada pela sua alma.

Hoje, Azélia tomou consciência de toda trama acima mencionada. Está de namorado novo e permitiu-se, aos 45 anos, não namorar mais escondido dos pais. Tem buscado sua independência emocional e maneirou bastante no trabalho. Não é tão importante mais ser a chefe de um setor; está mais preocupada em chefiar a própria vida. Não manipula mais a filha; optou por orienta-la. Sabe que jamais conseguirá evitar que a filha dê suas cabeçadas pela vida tratando-a como uma eterna criança. Sabe que até os adultos dão as suas cabeçadas. Consegue, hoje, ser  mãe de uma adolescente e curte este novo jeito de ser mãe. Sabe que tem muito trabalho pela frente e tem se dedicado muito. Quanto a Azelinha, só as mudanças da mãe foram suficientes para que começasse a operar as suas próprias.



Ter ciúme e inveja é humano, mas alimentar a frequência destes sentimentos é burrice ou, no mínimo, uma atitude sadomasoquista. O invejoso e o ciumento além de sofrer acabam provocando sofrimento no outro e se compraz com isto. O desejo de manipular os sentimentos e a vida do outro caracteriza o jogo mais apreciado por eles. O compromisso com o crescimento pessoal perde a força todas as vezes que se sente ameaçado de perder o objeto de seu desejo. Aprisionado por um comportamento infantil caracterizado por um egocentrismo acentuado, faz do outro seu brinquedo favorito. Nem sempre possui a consciência de estar usando este outro ao seu bel prazer. A sua imaturidade afetiva encontra razões para aniquilar a individualidade do outro. O principal papel deste, na perspectiva egocêntrica do ciumento e invejoso, é satisfazer os seus próprios desejos. Assim, a felicidade do outro só é legitimada por ele se puder estar junto e usufruí-la. Caso contrário, o prazer é proibido ao outro. Temos aí, o exemplo típico de um adulto que não cresceu. É comum vermos crianças dando acesso de birras para fazer valer o seu desejo. É tão comum, por incrível que pareça, vermos adultos fazendo o mesmo.

Não precisamos, necessariamente, de más companhias para aprendermos o mal comportamento. O local mais comum para aprendermos o que deveríamos desaprender é dentro da própria família. Há pais maduros que colocam limites aos filhos com a consciente intenção de educá-los. Os limites dão a estes a consciência do território delimitado que pertence ao outro e que precisa ser respeitado. No entanto, há também, crianças educando crianças. Há inúmeros exemplos de pais infantis. Pais que ensinam a seus filhos serem ciumentos, invejosos e manipuladores, pois vibram nestes sentimentos. O filho irá expressar a energia que absorveu. Pais que não conseguem exercer a sua autoridade sem autoritarismo, ensinando os filhos a enxergarem apenas o próprio umbigo. Pais que comparam um filho com o outro ou com colegas, fazendo nascer aí sentimentos de menos valia que criarão terreno fértil para o ciúme e inveja. Pais que depreciam o sucesso e as conquistas do próximo, deseducando a criança a admirar. Sem admiração, restará a inveja. Pais que alimentam a dependência do filho por medo da solidão, pois um filho dependente estará sempre próximo. Pais que não sabem dividir e brigam entre si competindo o afeto do filho. A criança acaba por se sentir culpada por desejar a companhia de um ou outro, ou por manifestar uma identificação maior por um dos genitores. Aprende que deve amar apenas um deles e à partir daí começa a construir um conceito errado do que vem ser o amor.  Este amor que lhe foi ensinado passa a vir sempre acompanhado de muita dor. Pais que não possuem limites  e que jamais conseguirão repassar aos filhos a noção destes. Sem limites, a criança estará sempre invadindo o território do outro, querendo tirar deste tudo aquilo que não encontra no seu próprio território; atitude típica de pessoas invejosas. E, assim, um padrão doentio de comportamento vai sendo repassado de geração a geração, como por exemplo, na história de Azélia. Neta, filha e avós compadeciam da mesma doença, pois compartilhavam o mesmo padrão comportamental. Como o sábio mestre Jesus disse: “Os filhos pagarão pelos pecados dos pais”. Pecado não é nada mais, nada menos do que aquilo que perverte a nossa alma, ou seja, as doenças e todo mal que nos impedem de sermos criaturas plenas. No entanto, os padrões doentios de relacionamento não se restringem à família, mas também ao grupo de amigos, colegas de trabalho ou qualquer tipo de relacionamento afetivo que tivermos ao longo de nossa vida. Brigas e conflitos é o saldo final de todo relacionamento contaminado por sentimentos doentios. 

A quem diga que quem ama sente ciúmes. Na verdade, quem sente ciúme não está amando. No momento que o ciúme entra em cena, o amor sai. Ambos não conseguem contracenar juntos. O amor exige respeito às necessidades do outro e o ciúme exige a obediência do outro aos nossos desejos mais infantis. O ciumento e invejoso são extremamente possessivos. A eles não basta a própria vida, pois desta conhecem muito pouco. Conhecendo pouco de si, querem roubar do outro o que ele tem de melhor, pois as suas próprias riquezas não foram ainda descobertas. Seu olhar está sempre voltado para aquilo que o outro tem e não para aquilo que ele próprio tem de melhor. O ciumento quer a atenção só para si. Precisa da apreciação total do outro para que se sinta valorizado, pois, não aprendeu a se valorizar. Pode ter sido na infância uma criança que sofreu comparações ou rejeições significativas. Desenvolveu uma personalidade dependente, seja ele, a vítima ou o vilão do relacionamento. O vilão, por mais poderoso que possa parecer, depende de uma vítima que aceite seus desmandos e vice versa.

Uma pessoa saudável, por mais que viva momentos em que seja tomada pelo ciúme ou pela inveja, conscientizará de seu sofrimento e do sofrimento que, por ventura, estiver causando ao outro. Possui uma inteligência emocional que não lhe permite persistir na doença. Estará travando, bravamente, uma luta no sentido de dominar e vencer a si mesma e não ao outro. Caso você não tenha ainda desenvolvido uma inteligência que lhe permita ser uma pessoa saudável, vale à pena investir no seu crescimento e amadurecimento pessoal. Procure ajuda!

Quando você aprecia uma rosa, o que você vê nela? Provavelmente, muita beleza e harmonia. Quando você se aprecia, o que vê em si mesmo? Aliás, você se aprecia ou gasta seu tempo depreciando quem lhe incomoda? Será que existem muitas margaridas em sua vida? Preste atenção na história da Rosa, pois ela pode lhe dizer e ensinar muita coisa a respeito.





A DOENÇA DA ROSA





Dizem que, num lindo jardim sempre habitado pela harmonia, a rosa adoeceu repentinamente. Nenhuma flor entendia o jeito novo e estranho da mesma. Sempre viçosa, aberta e vibrante passou a ficar,  dia a dia, cada vez mais murcha, fechada e sem vida. “Que doença era aquela que acometera a rosa repentinamente”? Até então, nenhuma flor jamais ouvira falar de uma doença tão grave. Como curar a rosa se ninguém entendia o motivo de sua doença? Preocupados, resolveram marcar uma consulta com o Dr Sol, o iluminado curador de todas as flores. Ele possuía uma sabedoria infinita capaz de curar todos os males. Tocando, graciosamente, a rosa com seus raios luminosos, o sol perguntou:

—O que aconteceu, linda rosa?

—Nada não – respondeu, rispidamente, a rosa.

O sol achou muito esquisito aquele jeito novo da rosa. A sua doçura foi transformada, sem motivo aparente, em uma rispidez acentuada. Tentando envolve-la carinhosamente, questionou a sua indelicada resposta.

—Se não tens nada, porque estás tão brava?

—Eu tenho o meus motivos...

—Que tal  falarmos deles? Talvez, eu possa ajuda-la.

—Tudo bem! Respondeu grosseiramente. O meu problema são as Margaridas.

—Engraçado, nunca nenhuma flor aqui representou um problema para a outra. Vocês sempre viveram tão felizes.

Antes que o sol pudesse continuar foi interrompido, ironicamente, pela rosa.

—Disse bem! Vi-ve-ram. Mas, não vivemos mais.

—Não é bem assim. Todos continuam vivendo bem, só você não consegue mais viver feliz. Se mudar este sentimento ruim dentro de você, com certeza recuperará a sua felicidade.

—Só se as Margaridas morressem, eu conseguiria me sentir bem.

Apesar de estarrecido, o Sol entendeu rapidamente o sentimento da Rosa, mas, decerto, ela não compreendia o que estava se passando consigo mesma. O grande astro sabia que tinha um grande trabalho pela frente. Só à partir do momento que a Rosa se tornasse capaz de compreender o real motivo deste ódio que a dominava, seria capaz de se salvar e se curar definitivamente. Sem censurá-la continuou indagando-a:

—Por que motivo as Margaridas deveriam morrer?

—Porque elas atrapalham a minha vida. Respondeu, egocentricamente, a Rosa.

—Engraçado, nunca reparei o quanto as Margaridas atrapalham a sua vida. Sempre as vejo no canto delas, juntas, felizes da vida, sem se preocuparem com nada.

—Você é quem pensa! Elas andam bem preocupadas em seduzir o meu amor. Outro dia o peguei irradiante, admirando-as.

—Que mal existe em admirar e ser admirado? Você sempre foi tão admirada e nunca se ressentiu disto.

—Uma coisa é ser admirada, outra coisa é ser menos amada por seu amor por ele ter descoberto outra flor mais bela.

—Ele te disse que passou a te amar menos por ter descoberto a beleza das Margaridas?

—Não, mas é um risco. Você não acha?

—Você deixaria de amá-lo caso passasse a admirar as Margaridas?

—Eu, admirar Margaridas? Era só o que faltava! Muitas flores podem até achá-las bonitinhas, mas aquelas pétalas finas... Que mal gosto! Fique sabendo que eu jamais vou admirar as Margaridas.

—Isso é muito sério. Disse o Sol com firmeza. Isso pode ser o seu fim. Continuou, olhando no fundo dos olhos da Rosa.

—O meu fim? Como assim ? Perguntou a Rosa preocupada.

—Se você não conseguir admirar as Margaridas, passará a se sentir cada vez mais feia e sem vida.

—Se o remédio é admiração, admirar a mim mesma não basta? Saiba que me acho muito mais linda. Minhas pétalas são mais largas, minha haste mais firme. Não tem comparação!

—Comparação. Preste bem atenção nesta palavra. A sua doença se chama com-pa-ra-ção. Você está doente de comparação.

—Eu, doente? Eu estou muito bem.

—Mas você acabou, agora pouco, de falar que só ficaria bem se as Margaridas morressem?

—Decerto, seria menos um peso para mim. Admitiu a Rosa.

—Atente-se ao que vou lhe falar. A noite está chegando e eu tenho que repousar. O Horizonte me espera, não dá para ficar mais tempo com você, embora eu saiba que você precisará de algum tempo para digerir e vivenciar tudo que irei lhe explicar. Qualquer dúvida, peça ajuda para a lua, hoje ela estará linda. Aliás, poderei usá-la como exemplo para que você compreenda melhor esta importante lição de vida.

—Que lição? Perguntou a Rosa mesclando dúvida com ansiedade.

—Eu ilumino o dia e a lua ilumina a noite. Temos o nosso valor e a nossa beleza. Temos o nosso lugar e a importância certa mediante o lugar que ocupamos. Sei que todas as flores deste jardim admiram as noites de luar.

—São lindas mesmo!

—Nem por isso eu desejo que a lua morra para que eu me sinta melhor do que sou. Tenho a minha própria importância. Sei o quanto sou importante para cada um de vocês.
Indispensável, eu diria.

—E daí? Ironizou a Rosa.— O que tudo isto tem haver com a minha doença?

—Ter certeza da nossa importância e valorizar a importância de todos que nos cercam é o passo mais importante na conquista da nossa felicidade e na eliminação do ciúme e da inveja que nascem assim que começamos a gestar as desagradáveis comparações dentro da gente.

—Ciúme, inveja... Que sentimentos são estes? Nunca ouvi falar deles.

—Mas está começando a sentir. Ciúme é esta necessidade maluca de ser o centro das atenções na vida do outro, querendo assim que este só tenha olhos para você. Se não tivéssemos que admirar a beleza do mundo e dos outros, nasceríamos cegos. Alguns até fingem não enxergar para não despertar este sentimento naqueles que se sentem inferiores, evitando assim, desagradáveis conflitos. Os que possuem visão e não enxergam são os piores cegos.

—Você quer dizer com isso que o meu amor é um ser agraciado por Deus com a dádiva de enxergar a beleza do mundo e não alguém que está traindo o amor que sinto por ele?

—Isto mesmo, Rosa! A nossa felicidade sempre dependerá do nosso ponto de vista. Procure enxergar as coisas do jeito que elas são de fato, e não da forma como a sua parte doente gostaria que fosse.

—E como a parte doente que está em mim gostaria que as coisas fossem? Perguntou, humildemente, a Rosa mudando sua feição frente a abertura aos novos aprendizados.

—A parte que adoeceu em você está exalando ciúme e inveja. Esta parte gostaria que o mundo girasse em torno de você e que, dentre todas as rosas e flores do mundo, você fosse a mais bela e a única a ser apreciada por todos.

A Rosa foi ficando mais vermelha do que era, exalando muita vergonha. Aquele sentimento novo que tomou conta de seu ser, sem que se apercebesse, era um sentimento ruim; gostaria de se livrar dele rapidamente. Mas de posse dele, parecia estar aprisionada e sem saída para o mundo encantado que vivia antes. Impotente, começou a chorar.

—Me diga, por favor! O que devo fazer para livrar-me desta doença?

—Admitir que é vítima dela já é o primeiro passo. No entanto, não poderá continuar como vítima. Deverá se responsabilizar por sua vida sabendo que possui dentro de si todos os recursos para se livrar dela. Basta usa-los. Lembre-se que você era uma rosa saudável e procure seguir o seu próprio exemplo de vida anterior, livre de comparações e deste sentimento de menos valia que se apoderou de você.

—Sinto vergonha de ter invejado as Margaridas e, com isto, desejado tanto mal a elas. Lamentou a Rosa.

—Quem inveja jamais deseja o bem para o ser invejado, pois deseja para si os atributos daquele ser que não possui. É como se o ser invejoso quisesse reter em si mesmo toda a beleza e todo o poder do mundo. Ilusoriamente, desejam ser um Deus.

A Rosa abaixou o olhar reprovando-se internamente. Queria se esconder de tanta vergonha, mas na impossibilidade de esconder de si mesma e de todos, limitou-se a ficar com seu olhar cabisbaixo por um longo tempo. Quando levantou seu olhar, o sol já não estava lá, a noite a envolvia com uma linda lua cheia a brilhar iluminando todo o jardim. Olhava para todas as flores e percebia a felicidade em cada uma delas. Sentia-se mal com a felicidade delas e agora, não só as Margaridas, mas todas as flores a incomodavam. Entretanto, o novo incômodo era diferente; já não desejava mal a elas, mas não conseguia ainda admirar aquela beleza que reinava no jardim que fazia parte. Sentia que nenhuma flor dali se importava com ela, estavam todas felizes e ela ali, triste e doente. Desanimada, pensou alto olhando para a lua que iluminava tudo e a todos:

—Agora, não tenho nem mesmo a companhia do sol...

—Mas tem a minha companhia. Interviu a lua irradiante.— A minha companhia não serve?  

—Serviria, mas você desconhece o meu problema e não tem como me ajudar.

—Mas posso conhecê-lo se você permitir. Estou disponível a ajudá-la, caso queira, é claro. Disponibilizou-se a Lua.

—Até quero, mas me dá uma preguiça ter que falar tudo de novo.

—Você não precisa falar tudo, comece por onde você terminou.

—E você entenderia se eu começasse do final?

—Que bom! Se você já está no final é porque seu problema já está resolvido.

—Quem me dera! Apenas entendi o que sinto, mas não consegui ainda mudar o sentimento dentro de mim. É como se eu tivesse mudado na cabeça e não o tivesse ainda arrancado do coração.

—Talvez seja o contrário. Certamente, você já o tirou do coração, mas  mantêm o problema vivo na sua mente.

—Sei lá, só sei que o sentimento de ciúme e inveja ainda estão dentro de mim.

—Quer dizer que você sente ciúme e inveja?

—Acho que não sinto mais nada. Olho para tudo e para todos e não vejo mais a beleza; sinto apenas um incômodo, que nem sei bem como explicar.

—Este incômodo é certamente o vazio que tomou conta de você.

—Acho que é isto mesmo! Me sinto vazia. Como você pôde descobrir se nem conhece todo meu problema?

—Os sentimentos são governados por algumas leis. O ciumento e o invejoso está sempre vazio e deseja, inicialmente, preencher este vazio com aquilo que o outro tem. Sentem muita raiva enquanto lutam para tomar do outro o que não lhes pertence e o que jamais conseguirão roubar. Quando se dão conta da impotência para mudar o que não pode ser mudado, são acometidos por uma grande tristeza e desânimo. Tomados pela depressão, se afundam, dia após dia, cada vez mais,  neste vazio sem fundo.

—Preciso de ajuda! Você tem como me tirar deste buraco fundo que caí? Suplicou a rosa desesperada e com muito medo de permanece,r infinitamente, neste inferno que a aprisionava.

—Infelizmente não posso fazer por você o que só você pode fazer por si mesma. Comece por olhar para si. Admire-se! Veja primeiro quanta beleza existe dentro de você para que depois possa, finalmente, admirar a beleza que existe no outro. No entanto, muito cuidado! Admire-se sem comparações.

Lembrando-se das últimas palavras do Sol a Rosa confabulou:

—O Sol me disse que talvez eu quisesse ser um Deus, habitar apenas em mim toda a beleza do mundo. Acho que ele tem razão. A minha própria beleza tem que me satisfazer. Estou sendo insaciável.

—Decerto! Nem Deus quis a beleza do mundo só para ele. Por isso se dividiu em todos os seres do mundo e deu para cada um deles parte de sua beleza. E há quem queira ser mais que Deus, ao invés de ser Uno; ser individualista e garantir a beleza só para si.

—Acho que o que sinto é coisa do diabo! Inferiu a Rosa com seus miolos já quentes de tanto pensar numa saída para seus problemas.

—A escolha é sua. Se desejar ser mais divina, deverá descobrir a divindade dentro de si mesma. Feita esta descoberta, você exalará o sentimento divino de querer também se dividir, se multiplicar. Estará aberta a dar e receber, pois verá riqueza em tudo que lhe rodeia.

—Temo não ter muito tempo para isto mais. Depois desta conversa, já consigo sentir a mudança operando dentro de mim, só não sei se terei tempo para vivenciá-la.

—O tempo é muito relativo. Não poderei viver mais esta noite, mas por certo, muitas outras virão. Talvez eu não possa mais encontrar com você tal qual se encontra hoje, pois o mundo gira, minha cara. Mas, encontrarei uma outra flor; diferente, mas com a tua alma.

A Rosa entendeu o recado da lua deixando duas gotas de orvalho caíram de suas pétalas. A lua me contou que nunca mais encontrou aquela Rosa invejosa e cimenta naquela roseira, mas a encontrou linda, feliz e viçosa em vários pontos daquele mesmo jardim e em centenas de outros. Fiquei, por algum tempo, sem entender como ela pôde se dividir e multiplicar ao mesmo tempo, mas, outro dia, lembrando-me de uma frase divina que diz mais ou menos assim – “Sede fecundos, multiplicai-vos” – deduzi, finalmente, o final desta história. Espero que você seja capaz de deduzir também.





ESPAÇO DE REFLEXÃO





Se você anda apresentando um dos sintomas abaixo, cuidado, pois o ciúme e a inveja podem estar começando a tomar conta de você.



(  ) Fico me comparando com os outros

(  ) As pessoas me comparam e me sinto mal com isto

(  ) Fico incomodado com aquilo que o outro tem e eu não

(  ) Sempre procuro um defeito no outro

(  ) O fracasso do outro me provoca um certo alívio e prazer

(  ) O sucesso do outro me incomoda

(  ) O amor me faz sofrer

(  ) Quero ser o centro das atenções

(  ) Sempre acho que ganho menos que o outro

(  ) Acho que gostam mais do outro do que de mim

(  ) Não gosto que o meu parceiro(a) admire outra pessoa

(  )Acho que sou um injustiçado

(  ) Fico bravo quando não fazem o que quero

(  ) Me acho pior que todo mundo ou que alguém especificamente

(  ) Quando não sou bajulado, me sinto ofendido

(  ) Sou viciado em elogio

(  ) Quero estar à frente de todos

(  ) Estou sempre avaliando todo mundo

       (  ) Me sinto avaliado o tempo todo

(  ) Acho que o outro não dá valor para aquilo que faço

(  ) Sou dependente de afeto, sofro diante da mínima falta do mesmo.

       (  ) Só suporto a felicidade do outro se eu estiver por perto para usufruí-la também

       (  ) Controlo ou desejo controlar cada passo do outro

       (  ) Quero para mim o que é do outro

(  ) Não consigo admirar ninguém, nem a mim mesmo

(  ) Fico incomodado com tudo aquilo que não é perfeito em mim

(  ) Sou possessivo

(  ) As minhas carências tornam severas as minhas exigências para com o outro

(  ) O meu olhar sempre se dirige para a mesma direção; especialmente para as minhas faltas

(  ) Dou muita importância às aparências

(  ) Quero mostrar mais do que sou e que tenho de fato





DESAFIO





Procure 5 qualidades em alguém que voce inveja ou possui muito ciúme. Procure identificar se lhe falta estas virtudes ou se voce se sente ameaçado e diminuído diante delas.
























































































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