domingo, 13 de maio de 2012

O NÓ DO CONSUMISMO


TEMENDO AS MARÉS DE SEU VAZIO

CONSUMIA

PERDIDO NA IMENSIDÃO DE TUDO QUE NÃO PODE SER POSSUÍDO

CONSUMIA

CONSUMIA E SUMIA

NO MAR DE FALSOS CONTENTAMENTOS

SUBMERSO PELA ILUSÃO DE TER

AFOGOU-SE NAS ONDAS DE SEUS DESEJOS INSACIÁVEIS

PERCEBENDO A VIDA DISTANTE

DA ORLA QUE SEMPRE REJEITOU

SEM FÔLEGO

ASFIXIADO PELO MAR DE COISAS QUE NÃO PREENCHEM A ALMA

INUNDADO POR FUTILIDADES

PRECISANDO SE ESVAZIAR

                                         DEBATEU-SE  

DA ORLA REJEITADA SURGIU O SOCORRO

TRAZENDO-O DE VOLTA

AO DURO CHÃO QUE ANCORA O SER

QUE NEM TUDO PODE TER




O NÓ DO CONSUMISMO



Ter coisas era o principal objetivo de Fabiana. Foi encaminhada para a terapia por uma tia que desejava ajuda-la  pensar um pouco mais em ser uma pessoa madura e não somente uma criança mimada, preocupada em se presentear e ser presenteada.

A vida lhe deu algumas regalias, dentre elas, um marido trabalhador que além de satisfazer todos os seus desejos, possuía uma grande dificuldade para lhe impor limites, o que facilitava e estimulava o comportamento compulsivo consumista de Fabiana.

Acostumada a ter coisas e consumi-las, não valorizava aquilo que tinha. Chegava a pregar, orgulhosamente, que não era apegada a nada, no entanto, o que possuía não era a virtude do desapego, mas o grande defeito de não valorizar nada daquilo que lhe fora ofertado, gratuitamente , pela vida. Estabelecia com as pessoas ao seu redor a mesma relação que mantinha com as coisas. As pessoas eram bem vindas se pudessem lhe oferecer algo. Seus relacionamentos sempre foram extremamente empobrecidos. Não recebeu na infância o amor que necessitava, possuía pais preocupados apenas com aquisições materiais e capazes de usar os próprios filhos em seus joguetes de poder. Os pais se separaram quando um deles deixou de ter as coisas materiais que o outro necessitava. Fabiana demonstrava uma forte tendência a repetir a mesma história com o marido. Este, sabendo, inconscientemente, desta regra do relacionamento, não deixava de oferecer as coisas que ela desejava por medo de perdê-la.

Fabiana não conseguia ser uma mãe de verdade. Tinha um lindo filho de dois anos que era também usado para manipular o marido e para brincar de boneca, como quase toda criança gosta. Adorava desfilar e exibir o filho com as roupas e brinquedos novos que comprava na passarela da vida fútil que levava. Quem via, achava que Fabiana amava o filho, no entanto, o que ela amava eram as brincadeiras que podia fazer com o mesmo. Não dava a ele a chance de desejar, com isso, este foi desenvolvendo sérios problemas emocionais. Desta mãe ele ganhava tudo, menos o seu amor autêntico e o tão  indispensável limite que toda criança necessita.

Fabiana não conquistou o marido, tramou um jogo sujo para possuí-lo. Inicialmente, assim que o conheceu, o rejeitou, pois este não possuía recursos financeiros que pudessem satisfazer os seus mesquinhos interesses. Depois de algum tempo, já dotado de uma boa situação financeira, o marido se interessou por outra garota e firmou com esta um sério relacionamento. À partir disto,  Fabiana despertou em si o desejo de possuí-lo, não só para usufruir dos recursos que o marido conquistara, mas também, para provar para a sua concorrente  que possuía mais poder de sedução do que ela. Em parceria com um rapaz dotado de uma personalidade bem parecida com a sua, tramou um história perfeita de traição fazendo com que o marido acreditasse que tivesse sido traído pela namorada. Conseguiu fazer com que os dois rompessem o namoro e deu um jeito de se engravidar rapidamente para garantir sua posição de esposa.

Fabiana nunca se interessou pelos estudos. Sempre foi uma má aluna, muito agitada, dispersa, irresponsável e desinteressada. Nunca trabalhou, mas chegou durante a terapia a cogitar a possibilidade de iniciar um trabalho. Contudo, estabelecia com esta ideia a mesma relação que uma criança estabelece com suas brincadeiras de faz de conta. Queria mais brincar de “ser” alguma coisa do que viver realmente esta posição.

Nada do que fazia lhe causava sentimentos de culpa, pelo contrário, tinha orgulho de si por se achar uma pessoa muito esperta e capaz de conseguir tudo que desejava. Apresentava fortes indícios de ser portadora de uma personalidade psicopática. Não foi capaz de dar continuidade à terapia, pois jamais se interessou em adquirir mais sabedoria e auto-conhecimento. Se interessava apenas em ter e usar coisas e pessoas. “Consumir era o seu lema”.


Não é necessário sermos doentes e perversos como Fabiana para nos tornarmos pessoas consumistas. Há muita gente boa obcecada por consumo. A sociedade nos educa para isto, cabe apenas à nossa consciência colocar limites a esta doença coletiva que aflige um grande contingente de pessoas. Assim, não precisamos, necessariamente, ter como Fabiana, traços marcantes de sérias patologias para desenvolvermos uma personalidade consumista, basta fazermos parte desta sociedade capitalista onde as coisas materiais possuem mais valor do que o próprio ser humano que as criou. Quando saímos às ruas somos metralhados com a informação – “Compre!”. Se ficarmos em casa e ligarmos a TV, somos metralhados da mesma forma. Receber esta informação desde criança faz de nós um produto interessante para o mercado e faz dos produtos que o mercado oferece um bem indispensável à nossa vida.  Desde a infância somos condicionados a sermos pessoas compulsivas, entretanto, não percebemos isto com a mesma clareza que os nossos olhos percebem os produtos nas vitrines deste mercado perverso. A consciência não se desenvolve presa na jaula dos condicionamentos a que estamos sujeitos a todo o momento. Com a nossa consciência amputada, fica muito difícil se libertar.  

As relações passaram a ter um papel secundário nesta sociedade onde as aquisições materiais são relevantes para se medir o valor e a competência de uma pessoa. A riqueza é medida pela quantidade de bens materiais e não pelas virtudes que uma pessoa possui. A competência e o sucesso são medidos pela quantidade de diplomas e não pelo real trabalho que um indivíduo executa em prol da sua comunidade. O número de títulos vale mais do que a experiência. Assim, educação passou a ser também, mais um produto lucrativo, deixando de crescimento pessoal e profissional. As escolas, cada vez mais preocupadas com o número de alunos, se esquecem da qualidade de ensino repassada aos mesmos. Com a saúde aconteceu o mesmo. Ter um bom plano de saúde passou a ser mais importante do que ter uma boa qualidade de vida capaz de lhe proporcionar bem estar físico, mental e espiritual. Quantas experiências gratificantes deixam de ser vivenciadas para sobrar, no final do mês, dinheiro para pagar o plano de saúde ou o seguro de vida?

Estamos vivendo num mundo de ilusões e o pior, acreditando fielmente nelas. Acreditamos que seremos felizes e estaremos seguros se tivermos tudo aquilo que o mercado prega como indispensável à nossa vida. O nosso tempo é, quase totalmente, investido em trabalho árduo para pagar estes bens que o mercado nos oferece como garantia de uma vida tranquila. Com isto, sobra cada vez menos tempo para as pessoas que amamos e para nós mesmos. Um grande buraco se abre dentro de muitos. Para diminuir a profundidade deste vazio, comprar compulsivamente passa a ser uma ilusão que atua como um ansiolítico e como um antidepressivo que diminuiu o nosso mal estar diante do crescente sentimento de falta. A falta é inerente ao ser humano, no entanto, nem todas as pessoas conseguem lidar de forma saudável com a mesma; substituem o Ser pelo Ter.

O mercado dita o que ter e o que devemos ser. Devemos ter um corpo perfeito, malhado, sem celulite, rugas, estrias, dentre outras exigências saudavelmente inalcançáveis. Devemos usar certos produtos que nos darão status e nos deixarão jovens mesmo depois dos 100 anos de vida. Envelhecer é sinal de incompetência e não mais um ciclo natural da vida. O corpo é esticado, aspirado, cortado, enfim, deformado para manter a imagem que enche os cofres de um mercado sujo que não tem o mínimo comprometimento com a vida e com a verdadeira saúde. Poucos são os que conseguem, hoje, tirar uma foto e aceitar a própria imagem nela refletida. Usam de todos os recursos de photoshop para criar uma imagem que possa valer alguma coisa na mente doentia de uma sociedade que não consegue lidar mais com o natural, com o verdadeiro. Vendemos uma imagem falsa para sermos aceitos, desejados e amados. Ha pessoas que só dão conta de desejar e amar o padrão de beleza que esta sociedade consumista podre construiu. Desconhecem o verdadeiro amor. Nenhuma cirurgia plástica é capaz de construir uma mente saudável e um ser humano mais consciente. O amor é livre,  jamais habitara o cárcere de quem mantem a alma aprisionada a um padrão tão mesquinho e pequeno de ser.

Precisamos cada vez mais obter coisas; concomitantemente, nos estressamos mais na medida em que precisamos dobrar a nossa carga de trabalho para ganhar mais dinheiro e cumprirmos o nosso dever como bom consumidor. Viver com menos — “menos coisas”— está se tornando cada vez mais difícil, já que este empenho em obter e garantir o lado material da vida tem nos obrigado, consequentemente, a viver com menos tranquilidade e menos saúde. Por que não me permito ter menos coisas e me permito ter menos saúde? É possível ter um pouco menos para conquistar um pouco mais de saúde e equilíbrio?

Possuir tornou-se mais importante do que conquistar. Assim como Fabiana, muitas pessoas travam jogos sujos para obter aquilo que desejam sem avaliar o grau de prejuízo que estão proporcionando ao outro ou ao meio ambiente. Não aprendemos a consumir de maneira sustentável. Consumimos alimentando muito mais a nossa ignorância do que aquilo que precisa realmente ser nutrido. A alma é violentada para nutrir um ego escravizado pelos interesses do mercado. A violência é perpetuada com a nossa recusa em se tornar consciente. Nos tornamos impotentes frente a expansão e força de nossa alienação.  Impotentes, sentimo-nos fracos e cada vez mais necessitados destas ilusórias seguranças que o mercado nos oferece. Um ciclo vicioso se instaura e dificilmente conseguiremos sair dele se não pararmos para repensar, avaliar e resignificar a própria vida.

Quem disse que a escravidão acabou? O número de escravos aumentou, pois a clientela se diversificou. O grande senhor chamado mercado dita as regras e as seguimos sem questionar temendo o “tronco” da rejeição que a sociedade impõe aos dissidentes. Ser um dissidente não é fácil. Talvez seja praticamente impossível libertar toda sociedade, no entanto, alforriar-se já é um bom começo.  Quantas pessoas se prostituem para atender a lei que o mercado impõe. Não falo aqui da prostituição do corpo, mas da prostituição da alma, de seu talento, de sua competência. Vejo artistas, profissionais competentes vendendo lixo quando poderiam vender ouro. Obras vergonhosas, sem qualidade e conteúdo são jogadas no mercado porque existe um grande contingente de pessoas vazias prontas a consumi-las. Atendimentos precários de saúde são oferecidos à população, por existir uma clientela mais interessada em usufruir seu “plano de doença” do que em ser bem atendida, orientada e tratada. Fico preocupada quando vejo um mundo de pessoas doentes e carentes de referências saudáveis de vida metralhadas pela perversidade daqueles que não possuem compromisso com a construção de um mundo melhor.

Mesmo que você se sinta um escravo de toda conjuntura econômica e social, não desanime.  A história abaixo não lhe dá a carta de alforria, mas oferece importantes recursos que poderão ser usados a favor de sua liberdade.




UM LUGAR ONDE O MÍNIMO ERA O INDISPENSÁVEL




Recanto da Harmonia era um vilarejo habitado por pessoas bem diferentes da maioria que conhecemos ou, mais precisamente, de nós mesmos. As casas eram todas diferentes. Cada uma delas tinha um estilo próprio, bem parecido com o dono que a habitava. Por outro lado, todas elas eram parecidas num determinado aspecto – a simplicidade. O mesmo acontecia com cada habitante deste vilarejo. Cada um possuía um estilo próprio, uma personalidade diferenciada, mas se pareciam muito no que diz respeito à maneira de encarar a vida. O contentamento era a maior riqueza almejada por cada um deles. Ninguém desejava mais do que precisava e todos eles possuíam a plena consciência daquilo que era realmente indispensável à vida de cada um e da comunidade.

Intrigados com a harmonia daquele lugar, estudiosos de vários lugares do mundo passavam por ali, estudando e entrevistando as pessoas aparentemente pacatas daquele povoado numa tentativa de montar uma teoria que pudesse explicar a razão para tanta tranquilidade. Numa destas entrevistas, um renomado cientista social perguntou:

—Qual a tática usada para construir uma sociedade tão harmônica?

—Precisamos de muito pouco. Respondeu Pacífico, o habitante mais velho daquele lugar que inspirava a paz que seu nome sugeria.

—O que há de tão significante no pouco? Ter pouco na nossa sociedade é um sinal de pobreza ou miséria. Indagou o sociólogo.

—Para nós é um sinal de abundância, pois temos pouco por opção e não por imposição. Precisar é um sinal de falta. Quanto mais precisarmos, mais falta sentiremos. Se precisamos de pouco é porque já temos o suficiente. Ninguém repete um prato de comida se já estiver plenamente saciado; a menos que esteja doente, dominado pela gula.

—No meu mundo tem muita gente gulosa. Apesar da gula ser um pecado, poucos conseguem resistir a ela. Aliás, sem o pecado da gula ficaria difícil manipular o nosso povo. Todo pecador se sente culpado. E, é fácil manipular culpados. Aqui não existem gulosos?

—Não. Como já lhe disse, temos o suficiente. Reafirmou Pacífico.

—Quem normatizou para vocês o conceito de suficiente?

—A nossa consciência. É ela quem comanda a nossa vida. No mundo de vocês há algo além da consciência funcionando como um referencial de vida?

—Há a consciência de mercado ditada pela mídia, 24 horas por dia. Esta consciência nos diz que produto devemos adquirir para sermos valorizados ou para nos tornarmos felizes e saudáveis. Esclareceu o sociólogo em tom de lamento.

—Não conhecemos esta consciência por aqui.

—Ainda bem!

—Por que? Você não parece gostar desta consciência. Há algum problema com ela? Perguntou Pacífico querendo conhecer um pouco mais o insano mundo daquele curioso sociólogo.

—Ela nos engana. Vende ilusões. Pagamos caro e jamais usufruímos o produto que ela nos oferta.

—Como assim? Não estou conseguindo ordenar as minhas ideias para entender o que você está falando.

—Acho que será muito difícil para você entender uma ordem alicerçada por uma grande desordem. O mercado desordena a nossa vida. Esta desordem gera pessoas confusas, portanto, mais passíveis de serem manipuladas.  Nos faz acreditar que seremos mais felizes, desejados e realizados se adquirirmos certos produtos, aliás, todos. No entanto, observamos uma onda de grande insatisfação crescendo dentro de todos nós a cada dia. Nada nos satisfaz. Quem tem o capital compra tudo que o dinheiro pode comprar, mas não consegue comprar este contentamento que vejo nos seus olhos.

—E, quem não tem o capital? Perguntou Pacífico mesclando confusão com curiosidade.

—Este aí, coitado... Vive sonhando com o dia que conquistará os recursos financeiros para comprar estas ilusões.

—Mas, vocês não se dão conta de que o mercado jamais dará conta de fazer o que cabe a cada um conceder a si próprio? Mesmo enganados, anos a fio, vocês não se deram conta ainda da realidade? Inquiriu Pacífico num tom de censura.

—Quando a realidade bate na nossa porta o mercado lança um novo produto. Completou, sarcasticamente, o sociólogo.

—E daí?

—E daí que, o produto anterior deixa de ter valor e aquele que foi lançado passa a ser o grande Deus que nos presenteará com o paraíso. Assim aquilo que temos perde o valor fazendo com que passemos a desejar, ardentemente, aquilo que nos falta.

—Então, vocês valem por aquilo que possuem e não por aquilo que são.

—Justamente! Confirmou o sociólogo.

—No seu mundo, existe mais alguém que já conseguiu perceber tudo isto que você já percebeu e relata com tanta clareza?

—Existem milhares de pessoas que já perceberam isto; algumas, até mais do que eu.

—E, por que vocês não fazem nada? Perguntou Pacífico indignado.

—Porque somos viciados. Sabemos o mal que esta droga chamada consumismo nos faz, mas não damos conta de lutar contra ela. O mercado é como um traficante que nos aponta uma arma todas as vezes que o desafiamos. Acho que temos medo de morrer se não usarmos esta droga, ou no mínimo, sofrermos a síndrome de abstinência. O mercado é sujo; mata a nossa auto-estima se desafiarmos as suas leis. Assim, adotamos a identidade que eles julgam mais apropriada para nos sentirmos vivos e valorizados. Usamos a roupa da moda, compramos o carro do ano, moldamos nosso corpo conforme as regras do mercado e por aí vai... Todas as vezes que nos sentimos ansiosos, tristes ou frustrados, tomamos uma dose de nossa droga , facilmente comprada em qualquer esquina, exposta nas mais lindas vitrines, e por alguns instantes, tudo parece voltar ao normal.

—Mas, existe uma forma de mudar tudo isto. Desafiou Pacífico, querendo oferecer uma alternativa que pudesse minimizar as insatisfações daquele sociólogo que parecia impotente, mas, ao mesmo tempo, ansioso para mudar a realidade de seu mundo.

—Me dê a receita que eu experimentarei hoje mesmo. Ironizou desacreditado.

—Pelo tom de sua voz, percebo que não acredita em mudanças. Sem fé, você não experimentará a receita mais gostosa desta vida.

—Qual? Perguntou o sociólogo enrugando a testa

—Você mesmo. Se não acreditar que pode experimentar a si próprio, vai ser sempre um produto deste mercado sujo que você diz desprezar.

—Mas, eu desprezo mesmo! Afirmou enfaticamente o sociólogo.

—Será? Você daria conta de viver como nós vivemos? Desafiou Pacífico.

—Certamente eu teria que me tornar uma outra pessoa. Conjecturou o cientista social.

—Teria que tornar a pessoa que és de fato. A que tens sido é um mero produto.

—Como é que eu posso me tornar eu mesmo?

—Alguns passos importantes terão que ser dados. Cada um no seu tempo. Não adianta querermos dar um passo maior do que as nossas pernas. O máximo que conseguimos com tal atitude é tropeçar e nos ferir.

—Qual o primeiro passo? Perguntou ansioso como se estivesse buscando uma salvação.

—Saber qual a parte de você pertence à sua alma e qual pertence ao mercado.

—Mas, como se faz isto?

—Sendo sincero e honesto consigo mesmo. Respondeu com firmeza o ancião daquela comunidade.

—Como assim?

—Tem gente que prefere uma vida de faz de conta. Esclareceu Pacífico

—Prefere acreditar que é o máximo, por exemplo? Perguntou o sociólogo buscando um esclarecimento maior.

—Por que vocês precisam ser o máximo? Não dá para simplesmente ser?

—“SER”, o que isso? A palavra Ser é muito vaga.

—É justamente neste ponto que entra o segundo passo — Aprender a diferenciar o que é vago do que é simples. Tornamos a simplicidade vaga todas as vezes que rejeitamos vivenciá-la. Esclareceu Pacífico com um profundo desejo de despertar uma reflexão em seu entrevistador.

—Você está querendo dizer que rejeito viver o meu SER?

—Mais do que isto. Quero lhe falar sobre o terceiro passo. Quem vive profundamente o seu SER deixa de percebê-lo como vago. Pelo contrário, ele passa a ser profundo. Tão profundo, que nem sempre nos aventuramos a dar este mergulho.

—Me sinto sufocado só de pensar na profundidade deste mergulho. Suspirou .

—Quando tiveres coragem para mergulhar profundamente em si mesmo, os outros passos fluirão automaticamente, um cadenciado pelo outro demarcando uma caminhada gostosa e tranqüila.

—Provavelmente, neste momento, pouco importará a marca ou a quantidade de calçados que coleciono em meu guarda-roupa. Completou o sociólogo, humorado, externando um sorriso carinhoso com nuances de agradecimento.

—Justamente! A confecção de sua própria marca é que fará a diferença. E, se sua marca for de qualidade, não será necessário colecionar outras.

—Acho que, neste momento, a melhor propaganda seria: “Se é bom, não precisa ser substituído. Dá para ser único!”. Ou ... “Não compre, fique com o seu; com certeza é o melhor! Pronunciou ativamente como se estivesse num comercial de TV”.

 Olhando no fundo de seus olhos, Pacífico elogiou com ternura:

—Bom Comercial! Bem pessoal, eu diria! Entendeu agora porque não precisamos de muita coisa?

Depois desta entrevista, o sociólogo voltou ao seu mundo. Sensibilizado, conseguiu mudar muita coisa em sua vida, mas não conseguiu mudar o mundo em que vivia. O máximo que conseguiu foi escrever um livro que não alterou o perverso sistema capitalista, mas que sistematizou uma série de reflexões e mudanças na vida de muita gente.




ESPAÇO DE REFLEXÃO



Responda e depois mude alguma coisa, caso seja possível mergulhar em si mesmo:

1.     Quantos pares de sapatos você tem? Todos eles são imprescindíveis para a sua vida?

2.     Você precisa realmente de todas as peças de roupa que estão no seu guarda-roupa? Se não, porque não as repassou para quem, de fato, necessita delas?

3.     Voce precisa destas coisas todas que anda guardando a anos  em gavetas e armários de sua casa?

4.     Sinta o cheiro e aspire a energia destas coisa que estão guardadas a anos. Cuidado! Se voce não adoecer, perceberá, no mínimo, que o odor delas é insuportável.

5.     Este produto que você tanto deseja comprar, vai mudar o que na sua vida?É possível viver bem sem ele?

6.     Dentre tudo que você possui, o que é realmente significativo e necessário?

7.     Comprar é o seu ansiolítico preferido? Você só se sente melhor depois de ter comprado alguma coisa?

8.     Você se sente pior do que alguém por ter menos coisas do que ele?

9.     Você tem sempre a sensação de que lhe falta alguma coisa?

10.    Ter vai fazer de você um Ser melhor?

11.    Você sabe diferenciar seus desejos de suas necessidades?

12.    Você consegue colocar limites aos seus desejos?



DESAFIO



Faça uma limpeza em seus armários. Desapegue-se de tudo que voce não usa. Doe a quem, realmente,  precisa daquilo que voce não precisa mais. Depois deste exercício, voce sentirá um grande espaço se abrindo dentro de ti. Este espaço novo, ha de acolher aquilo que voce realmente precisa.

“Às vezes, estamos tão entupidos com futilidades que não sobra mais espaços para nós mesmos dentro de nossa própria vida”.


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