segunda-feira, 21 de maio de 2012

O NÓ DO PERFECCIONISMO


QUERIA QUE AO INVÉS DE RUGAS
ENXERGASSE MINHA EXPRESSÃO
AO INVÉS DAS MANCHAS
MEU BRILHO
MAS MESMO NÃO VENDO
MINHA INCONFORTÁVEL FALÊNCIA
O FAREI VER APENAS E SEMPRE
AQUILO QUE VEJO.



 VEJO OS SEUS OLHOS
IMPLANTADOS EM MINHA VISÃO DISTORCIDA
DISTORCIDA DA ALMA
RETORCIDA PELO CORPO QUE ENVELHECE
NO ESPELHO DE MINHA VISÃO MÍOPE
QUE DESEJA QUE VEJA
O QUE EU MESMA NÃO ENXERGO.



QUERO SER O SEU FOCO
MAS COMO POSSO SER
                                    SE DESFOCO A MINHA BELEZA
ATRAVÉS DO DESEJO INALCANÇÁVEL
DE SER A MUSA
DE SEUS INATINGÍVEIS DESEJOS.




O NÓ DO PERFECCIONISMO



Na infância, Aurora pensava que se casaria com um homem que amasse e que lhe amasse muito. Casaria virgem, teria uma lua de mel maravilhosa que duraria alguns anos e teria 5 filhos. Seria dona de casa, como a mãe, e o marido o grande provedor da família, assim como o pai sempre fora.

Aurora imaginava uma vida perfeita dentro dos moldes de perfeição construídos por ela até aquele precoce momento de sua vida. O tempo passou... Já na adolescência algo mudou. Já não queria mais casar virgem e nem mesmo ser dona de casa, mas ainda desejava ter 5 filhos. Desejava seguir uma profissão onde pudesse ganhar também o próprio sustento. Descobriu que a independência financeira era algo muito importante e que poderia se sentir mais útil participando das despesas da casa. Ainda desejava ter apenas um único homem em sua vida – o grande amor de sua vida. O tempo passou... Viveu várias desilusões amorosas. Passou a não desejar mais ter apenas um homem, e nem poderia, pois até aquele momento já tivera passado por inúmeros relacionamentos. Um dia, finalmente, encontrou o seu grande príncipe encantado - Um homem que a amava plenamente e que fazia todas as suas vontades. Casaram antes de Aurora se formar, pois se engravidou sem planejamento. Teve que abrir mão da cerimônia e da festa de casamento sempre sonhada, pois além de frustrar toda  família, não contava com recursos financeiros disponíveis para bancar a tão sonhada festa. Teve, simultaneamente, que  desistir da lua de mel tão sonhada – aquela em que o casal não tem ainda a responsabilidade com  filhos. Mas, estava certa que este filho e os próximos lhe trariam muitas alegrias. O estresse foi enorme com o primeiro filho. Muito trabalho com a criança, além das preocupações financeiras. O marido não tinha tempo para  ajuda-la. Por questões financeiras teve que trabalhar durante a semana numa cidade próxima. Só se viam no final da semana. De 5 filhos, Aurora decidiu ter  apenas dois. Um menino e na próxima gravidez uma menina. Daria um espaço bem grande de uma gravidez para a outra para que pudesse se preparar melhor para a segunda. No entanto, a camisinha rasgou e lá estava ela de novo – grávida de seu 2º filho, quando o primeiro possuía ainda 9 meses. Nasceu um outro garoto. O sonho de ter uma menina teve que ser abandonado. O marido, sempre tão presente anteriormente, repentinamente, foi ficando distante. O sonho do casamento eterno foi esfacelado quando descobriu que estava sendo traída. Separou-se. No meio disto tudo, Aurora ainda se sentia feliz. Teve todos os motivos para se sentir uma fracassada, para se deprimir, no entanto, a cada experiência nova se tornava uma mulher cada vez mais forte e dinâmica. Um dia, olhando para trás, percebeu que sua vida fora totalmente diferente de tudo que havia previsto ou desejado inicialmente. No entanto, ainda assim, sentia que a sua vida era maravilhosa, nem melhor e nem pior do que pudera ter sido de uma outra maneira. Era a sua vida; a vida que sua alma precisava, com experiências que pudessem faze-la sentir que era apenas um ser humano e não uma deusa que possuísse o controle de tudo e de todos. Aprendera, estes anos todos,  a ter o maior controle de todos – controle sobre a sua total falta de controle sobre a vida.

Não era mais a criança imatura, a adolescente sonhadora e nem mesmo o adulto controlador. Era apenas uma mulher vivendo a experiência de ser ela mesma, aceitando todas as experiências que atraía para si mesma. Jamais se sentiu vítima de alguém ou do destino. Tinha muito orgulho de dizer para si mesma: “Eu construo o meu destino aceitando que a matéria prima me seja oferecida pela vida. Não tenho controle sobre o material que me será oferecido, mas tenho o poder de maneja-lo da melhor maneira possível”.


Construímos quadros perfeitos de experiências de vida que ficam, no entanto, pendurados na parede de nossa mente, apenas para serem visualizados, pois nem sempre é possível vivencia-los plenamente. A vida nem sempre segue o trajeto perfeito que a gente estabelece. Quem não possui flexibilidade para mudar a direção e encontrar o encanto numa outra via acaba se frustrando. Quem não dá conta de lidar com a imperfeição, aceita-la para poder, posteriormente, transforma-la, vai viver de ilusão − Ilusão de que pode ser, ter ou fazer o impossível. Assim,  jamais se contenta com o possível e quase nada realiza. Ter a flexibilidade de aceitar uma outra vida, nem sempre apreciada pelo nosso ego, nos liberta de uma vida doentia ou morta. Viver em função de expectativas irreais só nos traz frustrações. O maior erro é perseguir a perfeição ou uma vida certinha que só existe apenas nossa cabeça. A mulher deseja ser a musa, quando pode ser uma mulher maravilhosa. O homem deseja ser o super-herói quando pode ser um homem de verdade. Desejamos ser o único foco  quando podemos ser mais um estímulo interessante na vida do outro. Desejamos ter tudo quando podemos ter muito ou extrair tudo e o muito do pouco. Desejamos não errar nunca quando podemos vibrar com nossos acertos, Desejamos ser  o irreal quando podemos ser a realidade. Desejamos ser o inatingível quando precisamos ser, a todo o momento, atingidos para nos sentirmos mais vivos.

O perfeccionista nunca consegue chegar a lugar algum, pois sua meta está sempre além – além daquilo que pode ser alcançado naquele momento. Desenvolve, assim, um olhar negativo sobre si mesmo, sobre o outro e sobre tudo ao seu redor. Está sempre insatisfeito à espera de algo mais. Há sempre uma falta a ser preenchida. Nada é suficiente. Projeta sobre o outro as suas insatisfações. Enxerga apenas o limite do outro e acredita que este o vê com os mesmos olhos. Cria, com isso, inúmeros conflitos e problemas de relacionamento, pois cobra de si e do outro mais do que este tem a oferecer. A sua visão distorcida faz tudo ficar distorcido e carente de ser aprimorado. No entanto, não deseja aprimorar, quer a coisa perfeita, pronta, sem arestas a ser lapidadas.

É saudável querermos fazer as coisas bem feitas, dentro dos limites normais de perfeição. Todavia, é doentio desvalorizar o bem feito por desejar o inatingível. Vivemos um processo de evolução. O nosso empenho em aprimorar a nossa natureza é sempre uma virtude que deve ser perseguida. No entanto, é necessário respeitar o processo evolutivo de cada ser e de tudo que nos rodeia. O perfeito e acabado jamais existirá. Haverá sempre algo mais a ser aprimorado, porém no seu tempo. O perfeccionista é ansioso. Quer para agora o que pode colher no amanhã. Não respeita o amadurecimento natural das coisas. Quer que tudo já esteja perfeitamente amadurecido desrespeitado as regras naturais de evolução.

A Aurora de nossa história, mesmo sonhando com uma vida, aparentemente, perfeita para ela, soube valorizar as mudanças e redirecionar a vida todas as vezes que as circunstâncias assim exigiram. Procurou extrair o melhor de cada experiência, por mais distante dos moldes de perfeição que tenha construído no passado. Soube viver uma vida “perfeita”.  O Yoga possui alguns preceitos básicos para quem deseja alcançar a iluminação. Um deles se chama Santoucha, a arte do contentamento. Aurora soube extrair deste preceito, uma importante diretriz para a sua vida. Aprender a se contentar com o que pode ser, ao invés de lamentar o que não pode é uma atitude iluminada de grande sabedoria. (Clique abaixo para ler um pouco mais sobre este princípio)
http://claudialuizacouto.blogspot.com.br/2012/05/pratica-do-contentamento-santoucha.html
O perfeccionista deveria mudar o seu lema de vida para realmente alcançar a “perfeição”, levando-se em consideração o vislumbre real que esta palavra pode alcançar. Ao invés de “viver da melhor maneira impossível” deveria “viver da melhor maneira possível.”

Para voce que não tolera a imperfeição, Guma e Xambu  talvez possam ensina-lo alguma coisa.



UM MUNDO PERFEITO



Vou lhes contar a história de dois mundos bem diferentes um do outro. O primeiro era o mundo de Xambu, um nobre guerreiro. Para Xambu , o seu mundo era perfeito e instigante.

O segundo era o mundo de Gumã, um cientista que se dedicava à   pesquisa dos nobres sentimentos . Para Gumã, o seu mundo era imperfeito e insuportável.

O mundo de Xambu vivia em guerra e no mundo de Gumã reinava a paz e o amor. Xambu tinha tudo que um guerreiro precisa para viver sua  energia bélica. As desigualdades, a miséria, as injustiças e a crueldade faziam do mundo de Xambu o lugar perfeito para ele exercitar a sua missão de vida e  sentir-se útil e valorizado por aqueles pelos quais lutava. Xambu nunca questionava a ordem  de seu mundo. Sabia, apenas, que deveria lutar contra a desordem. Mesmo sem ter consciência, apreciava a desordem que ordenava, de certa forma, a sua razão de viver.

         Certo dia, Xambu foi convidado a conhecer o mundo de Gumã. Passaria lá uma boa temporada para que pudesse aprender algo novo e inusitado, capacitando-o a levar para o seu mundo as lições de paz, justiça e igualdade de direitos que ali reinavam. Xambu achou uma grande chatice aquele mundo tão organizado e sem problemas, sentia-se ocioso e pouco valorizado, pois não tinha com quem e por quem guerrear. Aproximando-se de Gumã, questionou-o de maneira tosca:

−Seu mundo é muito chato!

−Concordo plenamente – confirmou Gumã.

−Como é que voce consegue viver aqui? Não há o que fazer. Tudo que deve ser feito parece já estar concluído.

−Estou em busca de um sentimento que seja o mais elevado de todos. É necessário ultrapassar a paz e o amor a fim de se conquistar um sentimento ainda mais sublime e perfeito.

−Paz, amor... Esta busca te alimenta? Perguntou Xambu confuso sem entender muito bem o que Gumã realmente pretendia. A busca daquele cientista lhe parecia vaga e sem sentido.

−Só me sinto, a cada dia, mais frustrado. Dá vontade de desistir de tudo! Tem sido muito difícil viver aqui. Eu preferiria estar lá.

−Lá? Onde? Perguntou Xambu confuso sem saber que lugar Gumã se referia.

−Lá; um lugar perfeito onde existe o que eu busco. É horrível ter que conviver aqui com este problema tão grande.

−Mas, o que eu vejo em seu mundo é justamente o contrário. Vejo  falta de problemas. Aqui reina alguma coisa que  deixa seu mundo muito parado, devagar. Se voces tivessem os problemas de meu mundo, talvez, estivessem mais satisfeitos.

−Mas, os problemas geram insatisfação. Pontuou Gumã.

−Não! Os problemas movem o nosso mundo. Se não existissem problemas, solucionada estaria a vida e nada haveria por se fazer. E, eu sou um guerreiro, preciso lutar por um ideal que jamais será alcançado.

−Como assim? Não faz sentido lutar por algo se voce sabe que não se alcançará nunca. Retrucou Gumã.

−O grande sentido é perseguir. Depois de alcançado perde a graça. Por isso, criamos sempre novos problemas para, a partir daí, criarmos novos ideais a serem perseguidos, justificando a nossa permanência nesta vida. Justificou Xambu.

−É muita maluquice o que voce esta falando! Preciso conhecer seu mundo e os seus problemas para entender a lógica de seu raciocínio.

−Será um grande prazer! O meu mundo não é muito longe daqui. Fica do outro lado do seu. Se quiser, posso levar voce agora mesmo.

Xambu levou Gumã  ao seu mundo. Assim que cruzaram a fronteira, entraram na zona de conflito mais perigosa de todo o território. O silêncio do mundo de Gumã foi substituído pelo barulho de explosivos e tiros  que ecoavam por todos os lados. A paisagem verdejante e serena foi substituída por um cinza  árido e sangrento. O olhar tranquilo e brilhante de seu povo foi substituído por um olhar colérico, opaco e desolador. Naquele mundo não havia espaços para a paz e o amor. Onde estariam estes sentimentos num mundo atordoado pelo instinto de morte e destruição? Por que, ao invés de investir na busca de sentimentos nobres, já triviais em seu mundo, aquele povo se limitava a viver valores e sentimentos tão destrutivos? A imperfeição que Gumã  atribuía ao seu mundo era uma perfeição jamais sonhada por aquele povo. A vivência da paz e do amor exigia uma evolução que eles ainda não possuíam. Como esta evolução fazia falta para aquele mundo em guerra! Se eles tivessem consciência dos ganhos que teriam com esta evolução, talvez se comprometeriam mais com a mesma. No entanto, a ignorância não permitia. Diante de tanta precariedade, Gumã passou a valorizar mais a evolução de seu povo. O amor e a paz deixou de ser um sentimento que precisava ser transcendido. Mesmo que houvesse, no cerne deste universo, sentimentos e virtudes mais poderosas, a compreensão de que a paz e o amor não perdem o seu valor e a sua importância por isto, deixou Gumã mais tranquilo. Ele estava perdendo a paz por desejar tanto e por desejar algo maior do que ela. Ele estava deixando de amar por desejar algo maior que o amor. A perda gradativa destes dois sentimentos, gerou, concomitantemente, um conflito interno e uma guerra consigo mesmo. O seu mundo interior já estava ficando bem parecido com o mundo de Xambu. Só depois desta compreensão, Gumã pode alcançar uma paz e um amor maior ainda do que a paz e o amor que ele conhecia . Percebeu, finalmente, que mais importante que transcender estes dois sentimentos, era transcender a si próprio. Que era, sobretudo, mais sábio aperfeiçoar-se do que buscar a perfeição.





ESPAÇO DE REFLEXAO



Selecione 5 situações imperfeitas em sua vida



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Selecione a atitude mais importante que voce deverá tomar para aprimorar estas situações



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Apresente uma justificativa positiva para voce ter que viver, neste momento, esta situação imperfeita



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Selecione o lado bom de cada situação imperfeita que voce esta vivendo



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Se voce alcançasse a perfeição em cada situação, selecione, para cada uma, um aspecto negativo que seria, inevitavelmente, vivenciado



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Depois desta reflexão, talvez voce consiga reconsiderar algumas coisas. Reconsidere-as, pois algumas situações consideradas imperfeitas, depois de resignificadas, poderão se tornar mais amenas, nem tão imperfeitas como, anteriormente, voce julgava.

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