QUERIA QUE AO INVÉS DE RUGAS
ENXERGASSE MINHA EXPRESSÃO
AO INVÉS DAS MANCHAS
MEU BRILHO
MAS MESMO NÃO VENDO
MINHA INCONFORTÁVEL FALÊNCIA
O FAREI VER APENAS E SEMPRE
AQUILO QUE VEJO.
VEJO OS SEUS OLHOS
IMPLANTADOS EM MINHA VISÃO
DISTORCIDA
DISTORCIDA DA ALMA
RETORCIDA PELO CORPO QUE ENVELHECE
NO ESPELHO DE MINHA VISÃO MÍOPE
QUE DESEJA QUE VEJA
O QUE EU MESMA NÃO ENXERGO.
QUERO SER O SEU FOCO
MAS COMO POSSO SER
SE DESFOCO A MINHA
BELEZA
ATRAVÉS DO DESEJO INALCANÇÁVEL
DE SER A MUSA
DE SEUS INATINGÍVEIS DESEJOS.
O
NÓ DO PERFECCIONISMO
Na
infância, Aurora pensava que se casaria com um homem que amasse e que lhe
amasse muito. Casaria virgem, teria uma lua de mel maravilhosa que duraria
alguns anos e teria 5 filhos. Seria dona de casa, como a mãe, e o marido o
grande provedor da família, assim como o pai sempre fora.
Aurora
imaginava uma vida perfeita dentro dos moldes de perfeição construídos por ela
até aquele precoce momento de sua vida. O tempo passou... Já na adolescência
algo mudou. Já não queria mais casar virgem e nem mesmo ser dona de casa, mas
ainda desejava ter 5 filhos. Desejava seguir uma profissão onde pudesse ganhar
também o próprio sustento. Descobriu que a independência financeira era algo
muito importante e que poderia se sentir mais útil participando das despesas da
casa. Ainda desejava ter apenas um único homem em sua vida – o grande amor de
sua vida. O tempo passou... Viveu várias desilusões amorosas. Passou a não desejar
mais ter apenas um homem, e nem poderia, pois até aquele momento já tivera
passado por inúmeros relacionamentos. Um dia, finalmente, encontrou o seu
grande príncipe encantado - Um homem que a amava plenamente e que fazia todas
as suas vontades. Casaram antes de Aurora se formar, pois se engravidou sem
planejamento. Teve que abrir mão da cerimônia e da festa de casamento sempre
sonhada, pois além de frustrar toda
família, não contava com recursos financeiros disponíveis para bancar a
tão sonhada festa. Teve, simultaneamente, que
desistir da lua de mel tão sonhada – aquela em que o casal não tem ainda
a responsabilidade com filhos. Mas,
estava certa que este filho e os próximos lhe trariam muitas alegrias. O
estresse foi enorme com o primeiro filho. Muito trabalho com a criança, além
das preocupações financeiras. O marido não tinha tempo para ajuda-la. Por questões financeiras teve que
trabalhar durante a semana numa cidade próxima. Só se viam no final da semana.
De 5 filhos, Aurora decidiu ter apenas
dois. Um menino e na próxima gravidez uma menina. Daria um espaço bem grande de
uma gravidez para a outra para que pudesse se preparar melhor para a segunda.
No entanto, a camisinha rasgou e lá estava ela de novo – grávida de seu 2º
filho, quando o primeiro possuía ainda 9 meses. Nasceu um outro garoto. O sonho
de ter uma menina teve que ser abandonado. O marido, sempre tão presente
anteriormente, repentinamente, foi ficando distante. O sonho do casamento
eterno foi esfacelado quando descobriu que estava sendo traída. Separou-se. No
meio disto tudo, Aurora ainda se sentia feliz. Teve todos os motivos para se
sentir uma fracassada, para se deprimir, no entanto, a cada experiência nova se
tornava uma mulher cada vez mais forte e dinâmica. Um dia, olhando para trás,
percebeu que sua vida fora totalmente diferente de tudo que havia previsto ou
desejado inicialmente. No entanto, ainda assim, sentia que a sua vida era
maravilhosa, nem melhor e nem pior do que pudera ter sido de uma outra maneira.
Era a sua vida; a vida que sua alma precisava, com experiências que pudessem
faze-la sentir que era apenas um ser humano e não uma deusa que possuísse o
controle de tudo e de todos. Aprendera, estes anos todos, a ter o maior controle de todos – controle
sobre a sua total falta de controle sobre a vida.
Não
era mais a criança imatura, a adolescente sonhadora e nem mesmo o adulto
controlador. Era apenas uma mulher vivendo a experiência de ser ela mesma,
aceitando todas as experiências que atraía para si mesma. Jamais se sentiu
vítima de alguém ou do destino. Tinha muito orgulho de dizer para si mesma: “Eu
construo o meu destino aceitando que a matéria prima me seja oferecida pela
vida. Não tenho controle sobre o material que me será oferecido, mas tenho o
poder de maneja-lo da melhor maneira possível”.
Construímos quadros perfeitos de
experiências de vida que ficam, no entanto, pendurados na parede de nossa
mente, apenas para serem visualizados, pois nem sempre é possível vivencia-los
plenamente. A vida nem sempre segue o trajeto perfeito que a gente estabelece.
Quem não possui flexibilidade para mudar a direção e encontrar o encanto numa
outra via acaba se frustrando. Quem não dá conta de lidar com a imperfeição, aceita-la
para poder, posteriormente, transforma-la, vai viver de ilusão − Ilusão de que
pode ser, ter ou fazer o impossível. Assim,
jamais se contenta com o possível e quase nada realiza. Ter a
flexibilidade de aceitar uma outra vida, nem sempre apreciada pelo nosso ego,
nos liberta de uma vida doentia ou morta. Viver em função de expectativas
irreais só nos traz frustrações. O maior erro é perseguir a perfeição ou uma
vida certinha que só existe apenas nossa cabeça. A mulher deseja ser a musa,
quando pode ser uma mulher maravilhosa. O homem deseja ser o super-herói quando
pode ser um homem de verdade. Desejamos ser o único foco quando podemos ser mais um estímulo
interessante na vida do outro. Desejamos ter tudo quando podemos ter muito ou
extrair tudo e o muito do pouco. Desejamos não errar nunca quando podemos
vibrar com nossos acertos, Desejamos ser
o irreal quando podemos ser a realidade. Desejamos ser o inatingível
quando precisamos ser, a todo o momento, atingidos para nos sentirmos mais
vivos.
O perfeccionista nunca consegue chegar a
lugar algum, pois sua meta está sempre além – além daquilo que pode ser
alcançado naquele momento. Desenvolve, assim, um olhar negativo sobre si mesmo,
sobre o outro e sobre tudo ao seu redor. Está sempre insatisfeito à espera de
algo mais. Há sempre uma falta a ser preenchida. Nada é suficiente. Projeta
sobre o outro as suas insatisfações. Enxerga apenas o limite do outro e
acredita que este o vê com os mesmos olhos. Cria, com isso, inúmeros conflitos
e problemas de relacionamento, pois cobra de si e do outro mais do que este tem
a oferecer. A sua visão distorcida faz tudo ficar distorcido e carente de ser
aprimorado. No entanto, não deseja aprimorar, quer a coisa perfeita, pronta,
sem arestas a ser lapidadas.
É saudável querermos fazer as coisas bem
feitas, dentro dos limites normais de perfeição. Todavia, é doentio
desvalorizar o bem feito por desejar o inatingível. Vivemos um processo de
evolução. O nosso empenho em aprimorar a nossa natureza é sempre uma virtude que
deve ser perseguida. No entanto, é necessário respeitar o processo evolutivo de
cada ser e de tudo que nos rodeia. O perfeito e acabado jamais existirá. Haverá
sempre algo mais a ser aprimorado, porém no seu tempo. O perfeccionista é
ansioso. Quer para agora o que pode colher no amanhã. Não respeita o
amadurecimento natural das coisas. Quer que tudo já esteja perfeitamente
amadurecido desrespeitado as regras naturais de evolução.
A Aurora de nossa história, mesmo
sonhando com uma vida, aparentemente, perfeita para ela, soube valorizar as
mudanças e redirecionar a vida todas as vezes que as circunstâncias assim
exigiram. Procurou extrair o melhor de cada experiência, por mais distante dos
moldes de perfeição que tenha construído no passado. Soube viver uma vida
“perfeita”. O Yoga possui alguns
preceitos básicos para quem deseja alcançar a iluminação. Um deles se chama
Santoucha, a arte do contentamento. Aurora soube extrair deste preceito, uma
importante diretriz para a sua vida. Aprender a se contentar com o que pode
ser, ao invés de lamentar o que não pode é uma atitude iluminada de grande
sabedoria. (Clique abaixo para ler um pouco mais sobre este princípio)
http://claudialuizacouto.blogspot.com.br/2012/05/pratica-do-contentamento-santoucha.html
O perfeccionista deveria mudar o seu
lema de vida para realmente alcançar a “perfeição”, levando-se em consideração o
vislumbre real que esta palavra pode alcançar. Ao invés de “viver da melhor
maneira impossível” deveria “viver da melhor maneira possível.”
Para
voce que não tolera a imperfeição, Guma e Xambu
talvez possam ensina-lo alguma coisa.
UM MUNDO PERFEITO
Vou
lhes contar a história de dois mundos bem diferentes um do outro. O primeiro
era o mundo de Xambu, um nobre guerreiro. Para Xambu , o seu mundo era perfeito
e instigante.
O segundo era o mundo
de Gumã, um cientista que se dedicava à pesquisa dos nobres sentimentos . Para Gumã, o
seu mundo era imperfeito e insuportável.
O
mundo de Xambu vivia em guerra e no mundo de Gumã reinava a paz e o amor. Xambu
tinha tudo que um guerreiro precisa para viver sua energia bélica. As desigualdades, a miséria,
as injustiças e a crueldade faziam do mundo de Xambu o lugar perfeito para ele
exercitar a sua missão de vida e
sentir-se útil e valorizado por aqueles pelos quais lutava. Xambu nunca
questionava a ordem de seu mundo. Sabia,
apenas, que deveria lutar contra a desordem. Mesmo sem ter consciência,
apreciava a desordem que ordenava, de certa forma, a sua razão de viver.
Certo
dia, Xambu foi convidado a conhecer o mundo de Gumã. Passaria lá uma boa
temporada para que pudesse aprender algo novo e inusitado, capacitando-o a
levar para o seu mundo as lições de paz, justiça e igualdade de direitos que
ali reinavam. Xambu achou uma grande chatice aquele mundo tão organizado e sem
problemas, sentia-se ocioso e pouco valorizado, pois não tinha com quem e por
quem guerrear. Aproximando-se de Gumã, questionou-o de maneira tosca:
−Seu mundo é muito
chato!
−Concordo plenamente –
confirmou Gumã.
−Como é que voce
consegue viver aqui? Não há o que fazer. Tudo que deve ser feito parece já
estar concluído.
−Estou em busca de um sentimento
que seja o mais elevado de todos. É necessário ultrapassar a paz e o amor a fim
de se conquistar um sentimento ainda mais sublime e perfeito.
−Paz, amor... Esta
busca te alimenta? Perguntou Xambu confuso sem entender muito bem o que Gumã
realmente pretendia. A busca daquele cientista lhe parecia vaga e sem sentido.
−Só me sinto, a cada
dia, mais frustrado. Dá vontade de desistir de tudo! Tem sido muito difícil
viver aqui. Eu preferiria estar lá.
−Lá? Onde? Perguntou
Xambu confuso sem saber que lugar Gumã se referia.
−Lá; um lugar perfeito
onde existe o que eu busco. É horrível ter que conviver aqui com este problema
tão grande.
−Mas, o que eu vejo em
seu mundo é justamente o contrário. Vejo
falta de problemas. Aqui reina alguma coisa que deixa seu mundo muito parado, devagar. Se
voces tivessem os problemas de meu mundo, talvez, estivessem mais satisfeitos.
−Mas, os problemas
geram insatisfação. Pontuou Gumã.
−Não! Os problemas
movem o nosso mundo. Se não existissem problemas, solucionada estaria a vida e
nada haveria por se fazer. E, eu sou um guerreiro, preciso lutar por um ideal
que jamais será alcançado.
−Como assim? Não faz sentido lutar
por algo se voce sabe que não se alcançará nunca. Retrucou Gumã.
−O grande sentido é
perseguir. Depois de alcançado perde a graça. Por isso, criamos sempre novos
problemas para, a partir daí, criarmos novos ideais a serem perseguidos,
justificando a nossa permanência nesta vida. Justificou Xambu.
−É muita maluquice o
que voce esta falando! Preciso conhecer seu mundo e os seus problemas para
entender a lógica de seu raciocínio.
−Será um grande prazer!
O meu mundo não é muito longe daqui. Fica do outro lado do seu. Se quiser,
posso levar voce agora mesmo.
Xambu
levou Gumã ao seu mundo. Assim que
cruzaram a fronteira, entraram na zona de conflito mais perigosa de todo o
território. O silêncio do mundo de Gumã foi substituído pelo barulho de
explosivos e tiros que ecoavam por todos
os lados. A paisagem verdejante e serena foi substituída por um cinza árido e sangrento. O olhar tranquilo e
brilhante de seu povo foi substituído por um olhar colérico, opaco e desolador.
Naquele mundo não havia espaços para a paz e o amor. Onde estariam estes sentimentos
num mundo atordoado pelo instinto de morte e destruição? Por que, ao invés de
investir na busca de sentimentos nobres, já triviais em seu mundo, aquele povo
se limitava a viver valores e sentimentos tão destrutivos? A imperfeição que
Gumã atribuía ao seu mundo era uma
perfeição jamais sonhada por aquele povo. A vivência da paz e do amor exigia
uma evolução que eles ainda não possuíam. Como esta evolução fazia falta para
aquele mundo em guerra! Se eles tivessem consciência dos ganhos que teriam com
esta evolução, talvez se comprometeriam mais com a mesma. No entanto, a
ignorância não permitia. Diante de tanta precariedade, Gumã passou a valorizar
mais a evolução de seu povo. O amor e a paz deixou de ser um sentimento que
precisava ser transcendido. Mesmo que houvesse, no cerne deste universo,
sentimentos e virtudes mais poderosas, a compreensão de que a paz e o amor não
perdem o seu valor e a sua importância por isto, deixou Gumã mais tranquilo.
Ele estava perdendo a paz por desejar tanto e por desejar algo maior do que ela.
Ele estava deixando de amar por desejar algo maior que o amor. A perda
gradativa destes dois sentimentos, gerou, concomitantemente, um conflito
interno e uma guerra consigo mesmo. O seu mundo interior já estava ficando bem
parecido com o mundo de Xambu. Só depois desta compreensão, Gumã pode alcançar
uma paz e um amor maior ainda do que a paz e o amor que ele conhecia .
Percebeu, finalmente, que mais importante que transcender estes dois
sentimentos, era transcender a si próprio. Que era, sobretudo, mais sábio aperfeiçoar-se
do que buscar a perfeição.
ESPAÇO DE REFLEXAO
Selecione
5 situações imperfeitas em sua vida
1
2
3
4
5
Selecione
a atitude mais importante que voce deverá tomar para aprimorar estas situações
1
2
3
4
5
Apresente
uma justificativa positiva para voce ter que viver, neste momento, esta
situação imperfeita
1
2
3
4
5
Selecione
o lado bom de cada situação imperfeita que voce esta vivendo
1
2
3
4
5
Se
voce alcançasse a perfeição em cada situação, selecione, para cada uma, um
aspecto negativo que seria, inevitavelmente, vivenciado
1
2
3
4
5
Depois
desta reflexão, talvez voce consiga reconsiderar algumas coisas.
Reconsidere-as, pois algumas situações consideradas imperfeitas, depois de
resignificadas, poderão se tornar mais amenas, nem tão imperfeitas como,
anteriormente, voce julgava.
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